Uma decisão de campeonato, dividida em duas partidas, dá a impressão de que a primeira não passa de embromação. E mais: que somente a segunda será para valer. O clássico-Rei, que abriu a disputa, transmitiu essa sensação. Não vi nas equipes o desejo de definir. Vi foi uma vontade danada de deixar tudo para depois, pegar o uniforme e ir para casa. Em outras palavras: se será possível definir amanhã, por que definir hoje? Exatamente o contrário do provérbio que diz: não deixe para amanhã o que pode fazer hoje.
Em alguns instantes, observei claramente não o ritmo de uma decisão, mas o ritmo da acomodação. Exceto raros momentos, o clima estava mais para amistoso que para decisão de um hexacampeonato. Duvido que no próximo sábado, dos dois lados, haja repetição assim. Se no clássico de sábado passado tivesse saído um gol, certamente o panorama teria mudado. Quero acreditar que, na próxima partida, haja efetivamente um clima de decisão à altura das grandes disputas entre Ceará e Fortaleza. Um jogo vibrante, emocionante, com muitas chances de gol, muitas alternativas, muita criatividade, muita vontade de lutar e vencer. O primeiro clássico da decisão foi a ausência disso tudo.
Voo
Em noventa minutos e acréscimos, destaco apenas as duas grandes intervenções do goleiro do Fortaleza, João Ricardo. A mais bonita delas, no voo espetacular em que evitou um golaço de Edson Pulga. Que defesa linda. Lembrou grandes momentos do saudoso goleiro Aloísio Linhares, que ganhou o apelido de Caravelle, justamente pelos voos fantásticos que fazia.
Perda
O atacante do Ceará, Saulo Mineiro, poderia ter sido ovacionado. A melhor oportunidade de gol esteve aos seus pés. Ele, a bola, a trave e a glória. Seria tirar do alcance do goleiro do Fortaleza, João Ricardo, e sair para o abraço, tendo a sua imagem gloriosa projetada para o mundo pela televisão. Mas Saulo falhou. Perdeu. Acontece.
Mérito
É preciso reconhecer o mérito do goleiro do Fortaleza, João Ricardo. Duas defesas portentosas, que garantiram o zero no placar. Ele se agigantou na frente de Saulo Mineiro. Cresceu como um fantasma que assusta pelo tamanho e agilidade. Reduziu a quase nada a possibilidade de Saulo tirar a bola do seu alcance. Mérito para João.
Arisco
Erick Pulga confirmou, no clássico, a ótima fase que vem ostentando. O lance em que ele obrigou o goleiro João Ricardo a praticar notável defesa, revelou a sua imensa capacidade de finalização, mesmo quando em aparente desvantagem diante de seus marcadores. O jovem atacante é arisco e finaliza muito bem. Teria sido um golaço consagrador. Que fase boa!
Conclusão
Foi fraquinho o primeiro jogo da decisão do Campeonato Cearense de 2024. Nada a ver com o que se espera de um clássico-rei decisivo. Pelo menos, eu tinha uma expectativa altamente positiva de que haveria no Castelão um grandioso espetáculo de futebol. Não passou de um feijão com arroz requentado, sem direito sequer a uma rapadura de sobremesa.