Houve um tempo de intensa e até radical rivalidade entre Brasil e Argentina. Cada um queria ser maior que o outro na América do Sul, quer no futebol, em qualquer esporte, na economia, no prestígio, em tudo. Com o passar do tempo, tenho notado que já não há tanto ranço quanto antigamente. Creio que o intercâmbio aproximou. Hoje, admirado e respeitado, o técnico argentino Vojvoda está no Fortaleza. Vi também por aqui uma torcida enorme por Messi na decisão da Copa do Mundo no Qatar. As coisas mudam com o tempo.
Fazendo uma leitura sobre o Bahia, campeão da Taça Brasil de 1959, descobri que foi um técnico argentino o primeiro campeão de um campeonato brasileiro. O nome dele: Carlos Volante, que dirigiu o Bahia no famoso jogo em que o time baiano ganhou do Santos no Maracanã, sagrando-se campeão da primeira Taça Brasil. Aliás, esse senhor tem uma história muito interessante, bem curiosa mesmo. Ele foi o massagista da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1938 na França. Sim, um argentino massagista da Seleção Brasileira, terceira colocada na Copa do Mundo da França em 1938. Como isso aconteceu? Vou resumir nos tópicos seguintes.
Situação
Carlos Martin Volante estava com 28 anos de idade. Jogava em clubes franceses. Mas sua vontade era voltar para a América do Sul. Sabendo que a Seleção Brasileira estava sem massagista, pediu ao técnico Adhemar Pimenta para exercer a função. Adhemar já conhecia Carlos Volante. Assim, aceitou a proposta. Carlos Volante passou a ser o massagista da delegação brasileira.
Flamengo
A aproximação de Carlos Volante com os brasileiros na Copa de 1938 valeu um convite para ele vir jogar no Flamengo. Carlos Volante ganhou três títulos de campeão carioca pelo Flamengo (1939, 1942 e 1943). Fez o maior sucesso. Ao encerrar a a sua carreira de jogador, resolveu ser treinador. Dirigiu o Internacional-RS, sendo bicampeão gaúcho em 1947 e 1948.
Na Bahia
Na função de treinador, também ganhou dois títulos de campeão baiano, no comando do Vitória (1953 e 1955). Em 1959, ele passou a fazer parte da comissão técnica do Bahia, que era treinado por Ifigênio Freitas Bahiense, o Geninho. Como Geninho era policial, só podia treinar o time nas suas folgas no quartel. Geninho comandou o Bahia nos dois jogos da final da Taça Brasil.
Sorte
Vejam a sorte do argentino Carlos Volante. Geninho dirigiu o Bahia na vitória sobre o Santos na Vila Belmiro (2 x 3) e no jogo de volta, na Fonte Nova, em Salvador, quando o Santos deu o troco, ganhando o jogo (0 x 2). Houve necessidade do jogo desempate. Mas Geninho não pôde comandar o Bahia no terceiro jogo no Maracanã, pois estava de serviço no quartel e não foi liberado.
Sorte II
Coube ao técnico Carlos Volante comandar o Bahia exatamente no jogo que o consagrou campeão da primeira Taça Brasil em 1959. Bela vitória sobre o Santos (3 x 1) no Maracanã. Assim, apesar de Geninho ter comando o time durante toda a campanha, quem comandou o Bahia no dia da notável conquista foi este argentino, que ainda hoje é lembrado com reverência pelos torcedores do Bahia.