Diariamente, vemos notícias sobre amigos, conhecidos, colegas de trabalho – e seus familiares – infectados pela Covid-19. Muitas vezes, essa informação se repete com o agravamento da doença e, nas situações extremas, com o óbito.
Temos aprendido a viver com essas notícias, lidando com esse luto coletivo. Com a permanência da pandemia, diversos questionamentos vão se acumulando em nossos pensamentos.
Nesta última semana, uma matéria publicada no jornal Folha de São Paulo tratou sobre o capital humano perdido com a pandemia. O doutor em Economia Cláudio Considera, ouvido pelos repórteres, trata por capital humano o conhecimento e as habilidades que essas pessoas vitimadas pela Covid acumularam ao longo da vida.
Esse conhecimento se transformaria em renda para si e seus dependentes. E, consequentemente, para o País.
Esse estudo desenvolvido pelo pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) diz, de forma científica, o que nós já sentíamos/sabíamos: que essa perda de pais, mães, avôs, avós, filhas(os), amigas(os) ou mesmo ídolos que somente conhecemos pela TV deixa o País mais pobre social e economicamente.
O pesquisador indica, com base no Portal de Transparência do Registro Civil, que contabilizando 398 mil brasileiros mortos pela Covid no período de tempo estudado, a parcela que tinha entre 20 e 69 anos deixa de gerar R$ 165,8 bilhões em rendimentos para suas famílias.
E o que dizer do conhecimento específico de cada uma dessas pessoas?
Para trazer a discussão aqui para o Ceará, podemos pensar em perdas como a do compositor Evaldo Gouveia, que de Orós ganhou o País com suas músicas sentimentais. Ainda no ano passado, a militante travesti Thina Rodrigues, que dedicou sua vida à luta pelos direitos da população LGBT+, e a professora indígena Paula Kariri, que perpetuou o conhecimento de seu povo para tantas crianças e adolescentes de Crateús e seus arredores.
Recentemente, tivemos a partida do intelectual Gilmar de Carvalho, um verdadeiro conhecedor de nossa cultura popular; do magistrado, entusiasta da aplicação das novas tecnologias no Judiciário, e amigo querido Michel Pinheiro.
Esses são alguns poucos que nos mostram a diversidade que foi afetada pela pandemia do coronavírus. Além das famílias desestruturadas pelas perdas, pensemos aqui de forma afetiva e também financeira, em todo o conhecimento que essas pessoas detinham. E suas lutas que, por tantas vezes, se confundiam com suas histórias e com a história de suas lutas aqui no Ceará. Como recuperaremos isso?
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.