Junho foi o mês do Orgulho LGBTQIA+. Nesse período, exceto durante a pandemia, espalham-se pelo mundo as famosas paradas pela diversidade, onde multidões se aglomeram para celebrar a existência e manifestar a luta por direitos civis. Porém, com o passar dos anos, todas as cores, sons e sorrisos dessa celebração, ícones de resistência, se tornaram ferramentas de lucratividade.
Em junho, grandes marcas estampam as cores do arco-íris e realizam campanhas por respeito à diversidade com os influenciadores mais famosos do momento. Passada a data, tudo volta ao monocromático, não se fala mais sobre representatividade, não se levanta bandeira colorida ou se ostenta hashtags com a frase Love is Love.
Há ainda aquelas empresas que convidam pessoas LGBTQIA+ para palestrar para seu quadro de funcionários sobre a importância da “tolerância”, na tentativa de parecer para a sociedade uma organização aberta, sem preconceitos e até educativa. Sem cachê, é claro, porque mais importante do que remunerar alguém por esse serviço, deve ser o nosso compromisso com a militância.
Para essas empresas, nós, LGBTQIA+, não podemos perder a grande oportunidade de ensinar para pessoas cis-heterossexuais o óbvio: que elas não podem e não devem nos discriminar.
O que muitas pessoas (e grandes marcas) não compreenderam ainda ou permanecem sem querer aprender é que o mês do orgulho e o dia 28 de junho são apenas a ponta de um iceberg.
São sinalizações de que a sociedade precisa estar em constante estado de alerta às demandas dessa parcela da população, que segue sendo violentada e sem políticas públicas eficazes quando o assunto é a garantia da plena existência de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, pansexuais, queers, intersexos, assexuados e todas as categorias epistêmicas que existam.
Não adianta levantar bandeiras, tentar lacrar, pedir por respeito e lucrar em cima de nossos corpos se nos outros 11 meses do ano você não estende à mão, não implementa política de empregabilidade, não equipara seu quadro de funcionários ou destina suas ações somente a pessoas cis-hétero.
Ser aliado de uma causa não é como marcar presença em um evento, é construir dia a dia, lado a lado, uma sociedade onde não se precise mais ir para ruas brigar por respeito.
O mês da diversidade existe e é reconhecido mundialmente porque, em 1969, Marsha P. Johnson - uma travesti negra - resolveu enfrentar a polícia de Nova York e manifestar contra as opressões em torno da liberdade sexual e de gênero. A partir disso, um levante popular se formou e explodiram protestos a favor dos direitos dessa parcela da população. Repito: tudo começou com uma travesti negra.
Marsha não nos deixou o “mês da diversidade” para que fôssemos lembrados somente por 30 dias, como se tivéssemos prazo de validade, mas para que não esqueçamos da importância de vivermos 356 dias de orgulho escancarado, sem medo, sem opressão, sem preconceito. E aí, pergunto a você, dono(a) de empresa que quer lucrar e lacrar: se eu te dou meu pink money, sua marca me dá o quê?
* Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.