Depois de quatro anos, finalmente, veremos o retorno tão esperado do Ministério da Cultura. Parece até que foi mais tempo, tamanho o dano desde o dia em que o MinC foi reduzido a secretaria e comprometeu drasticamente a cadeia artística e cultural do Brasil. Agora os ventos da esperança voltaram a soprar e eu, particularmente, já respiro aliviado mesmo sabendo que há um longo e árduo trabalho pela frente.
A volta do Ministério da Cultura era uma das principais propostas de governo da campanha política de Lula em 2022. O presidente eleito sempre deixou claro seu apreço e compreensão da importância desta pasta para o desenvolvimento nacional, e ao meu ver, a indicação que a primeira-dama Janja fez para este ministério foi das mais assertivas: Ministra Margareth Menezes. É até bonito de ler. É sonoro. É forte.
Imagina começar um novo ano vivendo em um país que possui uma mulher preta, nordestina, da periferia de Salvador, na Bahia, cantora - uma das maiores vozes da música brasileira, diga-se de passagem - atriz, bailarina, compositora sendo Ministra da Cultura! Isso é tão importante.
Justamente por isso, é claro que as críticas a ela surgiriam rapidamente. Tinha quem esperasse alguém de dentro da política partidária, tinha quem esperasse por uma figura masculina, tinha quem esperasse por uma pessoa branca e todas esses “críticos” se juntaram na tentativa de colocar em xeque a capacidade de gestão de Margareth.
Pois bem, para quem não sabe, além de cantora com mais de 20 turnês mundiais, indicações ao Grammy Awards e ao Grammy Latino, além de ser considerada pelo jornal Los Angeles Times como a “Aretha Franklin brasileira”, além de ter lançado 14 álbuns e ter alcançado o topo da Billboard e o clássico Faraó - Divindade do Egito ter vendido mais de 100 mil cópias, Margareth também é produtora e gestora cultural.
Líder do movimento Afropop Brasileiro, que visa preservar e promover a cultura afro-brasileira, Margareth é também fundadora da Associação Fábrica Cultural, organização não-governamental de combate ao trabalho infantil, exploração sexual e outras violações de direitos humanos, dirige o Mercado Iaô, é embaixadora da IOV Unesco e, em 2022, foi eleita uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo pela lista da Most Influential People of African Descent. E olha que eu não coloquei nem metade do currículo da moça.
Assim sendo, com essa trajetória que perpassa a arte, a história, a educação e a cultura, essa mulher tem experiência e conhecimento para enfrentar os desafios que se erguerão numa pasta cheia de dívidas orçamentárias e repleta de faltas com a população e os trabalhadores da cultura.
A esperança que fica é a certeza de que finalmente temos uma nomeação de uma representante de respeito com a arte, de comprometimento com a cultura, de olhar mais sensível, minucioso, sério e capaz de compreender os reais problemas e buscar soluções adequadas ao desmonte que o setor vem sofrendo nos últimos anos.
Que Margareth seja a ministra que restabeleça a confiança nas políticas públicas culturais e consiga fortalecer e engrandecer legados como o de Gilberto Gil e Juca Ferreira.
* Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor