Caros leitores,
Acredito que alguns de vocês, que por aqui me acompanham, tomaram conhecimento do acidente de carro que me aconteceu no último dia 17, no interior do Ceará, quando retornava para a minha cidade, Mombaça. Está tudo bem comigo e com meus amigos, saímos ilesos, sem nenhum arranhão sequer, graças ao uso do cinto de segurança.
O susto já passou e com ele percebi que preciso aprender a ouvir melhor os avisos do meu próprio corpo sobre não se sentir bem e compreender os limites dele. Agora, é vida que segue, cuidado redobrado, gratidão e mudança de caminhos. Essa coluna não é um lamento, é sobre felicidade, sobre benção.
Hoje, minhas palavras são uma celebração à vida.
Após dois anos vivendo em uma pandemia e atravessando um duro período de isolamento social, estar vivo já é um presente incalculável, mas esse acidente me trouxe a certeza de que me foi dada uma nova oportunidade. Tenho tantas coisas pra viver, ver e sentir, tantos momentos importantes estão prestes a acontecer na minha vida, que a sensação que fica é como se o caminho que preciso percorrer ainda não estava na hora de se findar.
Um desses grandes momentos é a minha estreia novela Pantanal, da Rede Globo. O dia 6 de maio marca meu retorno à teledramaturgia depois de cinco anos, quando fiz A Força do Querer, em 2017. Agora, serei Zaquieu e este personagem tem sido desenvolvido com tanto carinho, tanto afeto…
Sou grande fã da primeira versão da novela (1990) e esse personagem, na época, foi interpretado pelo grande João Alberto Pinheiro, ator que transformou Zaquieu em uma das figuras mais adoradas da trama.
Assim, 32 anos depois, meus principais objetivos são honrar o legado de João Alberto, que faleceu pouco tempo depois da novela decorrente de complicações com HIV e também construir um novo diálogo entre TV e espectadores sobre comportamentos, diversidade, sexualidade e respeito, afinal, você já se perguntou o que mudou na nossa sociedade de 1990 pra cá? O que será que aprendemos sobre direitos civis e humanos? E sobre liberdade? Ainda devemos nos submeter às piadas de mal gosto, às chacotas, às violências verbais e físicas daquela época? Não! Não podemos!
Três décadas separam as duas versões. De lá pra cá, existiu um Silvero criança, que se identificava com o Zaquieu nos trejeitos e na vergonha de se impor como menino gay, porque nem entendia que isso era possível. Hoje, existe um Silvero que dará vida a um Zaquieu, que não leva desaforo pra casa e que orgulha-se de quem é.
No próximo sábado, 30 de abril, faço minha estreia no Altas Horas - programa no qual sempre sonhei em participar. Será uma participação super especial, onde cantarei a música “Sujeito de Sorte”, do meu ídolo e conterrâneo, Belchior. A data é exatamente no dia em que se completa cinco anos da perda desse grande e saudoso artista.
Cantarei essa música porque é pura identificação. Talvez por ser um rapaz latino-americano vindo do interior; talvez por me considerar um menino de sorte nos caminhos que a vida me proporciona; talvez porque em junho, chegarei aos 40 anos de vida; talvez porque ganhei uma nova chance de viver; talvez porque eu ainda tenha algo de importante a construir neste plano; talvez porque, pra mim, amar e mudar as coisas me interessam mais; talvez porque esse ano eu não morro!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.