Desde criança, sempre admirei a vida artística, principalmente, de quem trabalhava na TV. Assim como na maioria dos lares brasileiros, a televisão era o único canal que me levava à arte. Eu passava horas imaginando o dia que chegaria lá, que encantaria pessoas com meus personagens, sonhava com a fama e o sucesso. Mal sabia o que o teatro faria comigo.
Diferentemente do que eu imaginava da TV, a vida real não tinha nada de glamourosa. Sou filho de uma lavadeira e de um pedreiro, estudei em escola pública e nunca tive condições financeiras para nada além das necessidades básicas: comer, vestir e morar.
Aos 10 anos, comecei a trabalhar em mercadinhos na cidade de Mombaça, no Ceará. Trabalhava das 7h às 17h. Quando chegava em casa, comia, tomava banho e seguia para a escola. Era uma rotina cansativa para uma criança, mas não podia parar. O dinheiro que eu ganhava, complementava a renda da minha família e largar os estudos também não era uma opção.
Minha mãe acreditava que só a educação poderia mudar a nossa realidade. Ela estava certa. Essa, inclusive, foi a maior herança que recebi de meus pais. Na verdade, a única que podiam me dar.
Na adolescência, fui morar em Fortaleza com o intuito de virar “doutor”. Meu maior objetivo era fazer uma faculdade, conseguir um emprego estável e ajudar meus pais. Entretanto, no meio do caminho conheci o teatro e fui arrebatado. Primeiro, como espectador e, em seguida, como ator.
Iniciei minha carreira ainda no ensino médio e fiz minha estreia profissional em 1998, no espetáculo Filé com fritas ao vinagrete, da Companhia Dyonisyos de Teatro. De lá pra cá, são 24 anos de profissão e mais de 30 espetáculos, seja como ator, diretor, produtor ou dramaturgo.
Em 2016, estive em cartaz com meu solo BR-TRANS, no Teatro Poeira, no Rio de Janeiro. Na época, Glória Perez foi me assistir. Ao final do espetáculo, ela me falou da novela A Força do Querer e me perguntou se eu gostaria de integrar o elenco. Foi assim que fiz minha estreia na televisão. Repare bem! Antes da TV, eu já tinha quase 25 anos de vida artística.
Em 2021, quatro anos depois da minha estreia na TV, reflito quanta coisa a televisão também me trouxe: novela, Show dos Famosos, seis curtas-metragens e cinco filmes - dentre eles BACURAU, que me rendeu o prêmio de Melhor Ator pela Academia Brasileira de Cinema. Atualmente, estou gravando uma série para a Netflix e farei parte de outros projetos para TV e cinema confirmados até 2023. Ganhei também milhares de seguidores e fãs que me acompanham em diferentes redes sociais.
O que deu certo nisso tudo? Em que momento a chave virou? Qual foi o passo que dei que transformou a minha vida? Tenho me feito essas perguntas constantemente quando penso em tantos outros artistas talentosos e competentes que não tiveram as mesmas oportunidades que eu ou quando me deparo com os “famosos de internet” que são vistos como artistas, porque viralizaram da noite pro dia.
Ainda não tenho grandes respostas para essas perguntas, mas posso dizer sem dúvidas que ser artista e ser famoso são duas coisas completamente diferentes e não complementares. Nem todo artista é famoso e nem todo famoso é artista.
Ainda assim, é provável que você - artista - ouça perguntas como “Não vai aparecer numa novela”? “Quantos seguidores você tem”? “Não foi chamado para o BBB”? Ou ainda escute coisas como: “Com esse número de seguidores tão baixo, não podemos te oferecer esse papel”. Acontece!
O fato é que se precisa ficar claro que a dimensão e o talento de um Artista não deve ser medido por números de likes, visualizações ou métricas de engajamento. A internet pode ajudar a construir carreiras, alavancar projetos artísticos, mas nunca ser requisito de sucesso.
Acredito que, assim como o teatro me mostrou que eu não precisava ser um “famoso de TV” para ser artista, também não é necessário viralizar para ser um artista. A arte é muito maior do que um meme com conteúdo viral. É como você se coloca no mundo, entende seu papel na sociedade, provoca, questiona, transforma, politiza, toca. Um processo árduo, lento e, na maioria das vezes, desvalorizado; Mas, definitivamente, um caminho que não cabe em 30 segundos de performance na internet.
Ser artista não é profissão, é devoção!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.