Se você é um leitor assíduo desta coluna, deve ter percebido que durante o mês de junho dediquei todas as pautas para falar sobre diversidade, gênero, respeito e apagamento social. Talvez alguém possa questionar esse enfoque, dizendo que isso só aconteceu por se tratar do mês do Orgulho LGBTQIAP+. Talvez alguém possa acreditar que dessa forma, eu esteja contribuindo para reforçar o quanto esses assuntos são explorados apenas neste período, como se a luta pelos nossos direitos e por respeito acontecesse somente em junho.
Tenho escrito neste veículo há mais de um ano e minhas pautas sempre tratam de assuntos como Arte, Cultura, Gênero e Diversidade. Tenho dosado esses temas e trazido algumas de minhas inquietações, às vezes, misturando Arte e Diversidade, às vezes, Cultura e Comportamento e ainda depoimentos pessoais, que me sinto à vontade para abrir com vocês.
O fato é que tenho encarado esse espaço como um diálogo aberto com todos que por aqui passam e tiram um tempo para a leitura, embora, para mim, não seja apenas uma relação de colunista e leitor. Eu vou em busca de vocês seja nos comentários das redes sociais, seja por mensagens no WhatsApp.
Fico sempre muito feliz quando sou abordado na rua por alguém que leu, se identificou, refletiu sobre si e sobre a sociedade ou até mesmo quando vejo os meus textos sendo levados para dentro da sala de aula, virando debate.
Escrever não é sobre ditar, mas sobre escutar! A jornalista Eliane Brum fala sobre isso de uma forma muito bonita ao se intitular “escutadeira e contadora de histórais”. Sempre encarei a arte dessa forma também, como trabalho de escuta e de contação de história, independente da linguagem. Precisamos escutar mais e contar mais histórias para o outro.
Artista que produz pra si mesmo, não faz arte, se masturba. Eu acredito que a arte é um local de encontro, um espaço subjetivo para dar e receber. Não deve ser uma masturbação. Ela tem que ser, obrigatoriamente, uma grande orgia! Não que o fazer artístico deva ser pautado apenas na opinião das pessoas, mas também não deve ser usado apenas para satisfação pessoal.
O teatro me ensinou a só me sentir artista com a presença do público. A reação do espectador é o complemento final de todas as ações planejadas. Sem esse elemento não pode haver arte. Um museu sem visitantes é apenas uma casa com objetos expostos. Um filme sem exibição é apenas um registro. A gente precisa jogar a arte pro mundo.
Essa coluna sem interação, seria apenas palavras em formato de pedras, que são lançadas e depois caem e se alojam em qualquer local. Não é isso que quero!
Aqui as palavras precisam ser partículas leves lançadas ao vento. Elas são construídas não para estacionar, mas sim para percorrer, refrescar, seguir adiante, virar redemoinho, causar desconforto ou prazer.
O artista tem a obrigação de ser um inconformado. Ele optou por essa premissa ao decidir sua profissão e em nenhuma de minhas atividades, seja como ator ou colunista, quero abrir mão da relação com aquele que me escuta. Eu também escuto vocês.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.