O que conversei com João e Thelminha, do BBB

O racismo à brasileira se caracteriza por várias questões que o torna eficiente na sua execução e eficaz na manutenção de um sistema de opressão estrutural que visa bloquear o desenvolvimento social, político, individual e subjetivo da maioria da população brasileira que se autodeclara preta e parda.

Com Thelminha, conversei com alegria e orgulho, pois não é todo dia que encontramos uma mulher preta, médica que atua na sua especialidade profissional e, ao mesmo tempo, utiliza sua competência, sua capacidade de empatia  e carisma num programa de alcance nacional e junta uma capacidade de levar a agenda dos seus pares para todos os lugares, dialogando com dignidade e simpatia sobre temas que tentam invisibilizar, já que, no racismo à brasileira, todos se assumem racistas, mas ninguém assume que pratica. 

Então, onde escondemos o racismo brasileiro ? 

Thelminha trouxe essas reflexões e os vários exemplos no papo que tivemos pelo Twitter Space quando eu perguntei como era transitar num papel, no caso a Medicina, num País onde as pessoas sempre têm uma memoria da pessoa preta como alguém em cargos secundários e posições invisibilizadas ou de servidão, nunca de mando.

Outro momento inspirador e de muito aprendizado foi no programa "Lado D", do jornalista e cientista politico Felipe D'ávila, no qual eu e o professor João dialogamos sobre o País e como o racismo impede que a democracia se realize.

Nem vou falar do caso do cabelo do João. O que me trouxe para o mesmo ponto da Thelminha foi o fato de João relatar as diversas vezes em que uma pessoa chegava ao seu ambiente de trabalho e perguntava: “cadê o professor ?”.  E ele, com um sorriso poderosíssimo, respondia : SOU EU!

Refleti com João que o racismo à brasileira nos empurra para duas situações tensas no nosso dia a dia, cenários extremamente complexos quando ocupamos espaços de visibilidade, decisão, fama  e poder. 

Ou trabalham para destruição psicológica e da nossa autoestima, atacando a autoestima e tentando desqualificar nossas competências, ou tentando invisbilizar nossa cor quando superamos e furamos bloqueios.

No site da revista GOL, estou vivendo um fenômeno interessantíssimo do racismo a brasileira, que traz sua face racista solidária negacionista, na qual em meio aos comentários de reconhecimento e orgulho, está uma quantia expressiva demonstrando incômodo por na capa da revista ter citado a cor. 

Por que é negacionista? Porque quer negar o racismo e, nessa hora em que ocupamos a cena pública, alegam a questão de méritos.

E racista, porque esse olhar, que parecer ser solidário, é indiferente quando a mesma cor é citada nos piores indicadores de desenvolvimento humano nos relatórios do IBGE.

A questão do mérito tenta usar nossa visibilidade para duas estratégias do racismo à brasileira: uma  para distorcer e omitir processos de racismo que perpetuam desigualdades entre pretos e brancos; a outra para usar nossos exemplos para desqualificar a luta dos nossos iguais contra o racismo estrutural , alegando que se “vocês chegaram lá, outros não chegam porque não querem e estão de mimimi”. 

Como omitir e negar o racismo é marca do racismo à brasileira, então falam de onde chegamos, mas a pergunta que está intencionalmente escondida é: onde chegaríamos se não tivéssemos sido privados e vivenciado processos de racismo individual e coletivamente em nossas trajetórias? Com certeza bem mais longe!

* Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.