O Padre Cícero deixou muitas fotos. Ele tinha até um fotógrafo particular: o jornalista Benjamin Abraão. Porém nunca vi nenhum registro do aniversário dele. Já vi foto até do caixão, mas nada do Padim fazendo pose para soprar as velas. E olhe que foram 90 anos de vida! Se celebrou o aniversário, foi discretamente. Já durante a morte, a celebração do nascimento de Cícero Romão Batista quase não falha e é imperdível.
O largo do Socorro vira o salão de festas da cidade. Um bolo gigante vai ser fatiado à meia-noite de hoje. A tradição foi iniciada pelas afilhadas do Padim chamadas de Cícera e Romana. Atualmente, confeitarias são responsáveis pelo bolo. Há também um concurso de bolos menores, porém decorados.
Para quem prefere salgado, é servido o caldo da Nair, outra tradição de uma devota do Padim. São sabores diversos: carne moída, ovo, feijão e até mocotó, a novidade deste ano. 2022 promete ser festa animada porque são dois anos de impedimento por causa da pandemia. Romaria sem aglomeração perde um pouco o sentido. O som da festa fica por conta da seresta.
São 178 anos desde que nasceu no Crato o filho que seria pai de Juazeiro do Norte, como gostam de dizer. Fundou o município. Foi o primeiro prefeito. A festa precisa ser celebrada e isso não está sendo feito só no Cariri.
Documentos
Neste dia 24 de março, às 14h, serão apresentados na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, documentos do Padre Cícero que foram restaurados. Cabe perguntar como documentos tão importantes foram parar tão longe? Mas cabe também salientar o alívio de estarem sendo restaurados numa instituição séria.
Mas essa situação com a documentação do Padre Cícero realmente é de chamar atenção. Recentemente a prefeitura de Juazeiro do Norte anunciou que uma batina e um chapéu dele estão em São Paulo sob a guarda de pessoas que são de uma família do Cariri.
Ninguém teve acesso a fotos ainda. Como foram parar com essa família? Só mandaram dizer que a explicação será dada quando estiver redigido o contrato de doação. O Padim, tão minucioso que foi no seu testamento, não conseguiu deixar ninguém que cuidasse dos seus pertences pessoais. Eles se espalharam pelo país.
Os paninhos sujos de sangue da Beata Maria de Araújo, então, só se ouve falar. Não há paradeiro. Certamente, muito modesto, o Padim não imaginava que a fama de santo tornaria qualquer objeto seu em relíquia.