"Só no Crato mesmo!" Essa frase já foi bem comum. Moradores da cidade gostavam de dizer ao ouvir histórias inusitadas. Pois para esta que vou contar talvez valha dizer também: uma família cratense é suspeita de criar uma campanha mentirosa afirmando que a filha estava com câncer na cabeça e ganhar dinheiro com isso.
Eles mobilizaram veículos de imprensa. Compartilharam material nas redes sociais. A rifa cobrava R$ 10 por bilhete. A informação era a seguinte: a jovem tinha um tumor na cabeça do tipo raro e que precisava ser retirado numa cirurgia em São Paulo.
Havia um aspecto aparentemente fantasioso: a médica viria do Japão para fazer o procedimento. E era fantasia mesmo. Uma ressonância comprovou que as características do crânio eram normais. Felizmente, a jovem não tinha tumor. Infelizmente, a família deve explicações.
Depois que virou caso de polícia, o dinheiro arrecadado foi doado ao Instituto de Apoio à Criança com Câncer, que fica em Barbalha: quase R$ 32 mil. Conversei com uma pessoa que participou da campanha inocentemente:
"Inicialmente iam ser 120 mil. Aí disse que a doutora deu um desconto. E ficou 60 mil", informou.
Em nota à imprensa, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), do Ceará, informou que o caso está sendo investigado como suposto estelionato.
Desde ontem a família não é mais vista onde morava. Seria o caso de dizer que algo assim aconteceria só no Crato mesmo? Não acho.
Histórias comoventes para ganhar dinheiro são criadas em todos os lugares e há muito tempo. Há quem tenha ficado rico fazendo isso e ainda esteja por aí sem que ninguém desconfie e sem ouvir cobrança por explicações.
Não é o caso deste jornalista, que, além de não ter enriquecido na profissão, precisa por ofício ter compromisso com a verdade, sob pena de perder o ganha-pão.