A história da costureira de galinhas e do menino protetor das aves

Na casa da família de Missão Velha, os animais são criados como bichos de muita estimação

Dizem que o consumo de ovo cresceu tanto que já começa a faltar à mesa dos cearenses. Eis o momento oportuno para contar a história de uma família do Cariri que é apaixonada por galinhas. Nessa casa de Missão Velha, sobram dúzias do produto, que é vendido para comprar a ração das aves. Porque aqui elas nunca vão parar na panela.

"Não vende e nem come", afirma Odete Pereira sobre as galinhas criadas pelo filho, Ryan, de 12 anos. Ele tem mais de 100 "que morrem de velhas ou de gordas".

"A gente tentou de tudo que é maneira para fazer com que esquecesse as galinhas: escola de futebol, aula de karatê, mas ele gosta mesmo é de cuidar delas. Gosta de todo animal. E diz que quer ser veterinário", afirma Odete.

Ryan cria as aves dentro de um terreno em frente à oficina do pai, no centro da cidade. A maioria tem nome. Ele também tem três capotes (galinha d'Angola) adultos e uns pequenos. Os capotinhos Jurema, Jubiscleiton e Jubiscleia seguem Ryan pela rua, como se entendessem que, perto dele, estão protegidos.

"A gente come carne, mas as galinhas dele ninguém mata. São criadas como animal de estimação", afirma.

A única exceção que o garoto permite é a venda dos ovos, cujo dinheiro, como eu disse, banca a ração delas. 

Casamento no galinheiro

A paixão é tanta pelas aves que fez com a mãe, que é costureira, desenvolvesse novas habilidades usando linhas e restos de tecidos. Odete virou uma estilista de galinhas.

Conta que um dia, o filho, quando tinha 4 anos, pediu que ela costurasse roupas para que o galo e a galinha pudessem casar.

"E mãe, como é besta... Fui lá e fiz a roupinha. Desde então, tenho feito para vários tipos de animais."

No Instagram, o perfil Det Pet exibe vários modelos. Odete também costura para cães, gatos e seres humanos, claro.

Adeptos do veganismo vão aos comentários e elogiam a iniciativa, afirmando que as aves têm sentimento e já está mais do que na hora de que sejam abolidas da dieta humana. 

Vê-se, então, que o Ryan, mesmo sem saber, lidera no Cariri um movimento que, inclusive, é mundial. Tanto que 4 de maio já foi escolhido como Dia Internacional do Respeito às Galinhas. 

A produção intensiva das aves vem sendo denunciada pelos maus-tratos. Quem assiste a documentários que mostram a realidade da indústria desiste instantaneamente de se alimentar dessa forma, com vergonha de sustentar tamanha crueldade.

No Cariri, na casa do Ryan, as galinhas já estão livres. E os capotes também.