A 4ª temporada de 'You' (Você) chegou à Netflix, na quinta (9), com a mesma expectativa da antes: quem Joe Goldberg deve matar dessa vez? Ainda que a nova leva de capítulos tenha se dividido - a segunda parte só chega em março - já é possível decretar, no entanto, o desvio da produção da premissa em questão para mergulhar em outro formato. Algo que soa enfadonho de início, mas que pode se transformar por meio do carisma do protagonista de Penn Badgley.
Como sempre, preciso avisar a você, que está acompanhando este texto, dos spoilers sobrando por aqui. Se já assistiu, fica à vontade para teorizar, concordar ou até mesmo discordar do escrito nesse espaço. Mas se não viu, fica atento em relação ao que pode ser dito, beleza?
Os novos episódios mostram Joe em uma vida completamente nova. Após deixar tudo para trás com a morte de Love (Victoria Pedretti), morta por ele, o assassino resolve seguir em busca de Marianne (Tati Gabrielle) em Londres, uma espécie de busca "artística" pela amada. Mas a própria série se desfaz do interesse de Joe para se inserir em um novo universo sem qualquer receio.
O problema é que nada funciona de forma tão fácil, tranquila, nesse novo ano. Logo no início, Joe continua sendo mostrado como um stalker, mas a série opta por uma espécie de mistério, trazendo o protagonista como o incumbido de resolver a clássica pergunta: quem matou? Uma pessoa é morta e Joe faz uma investigação, sem escrúpulos, claro, mas esquece parte da personalidade de outrora.
Narração fraca
De ponto franco, inclusive, a série traz um bem evidente na narração feita pelo protagonista. Talvez seja pela repetição do formato, mas Joe conversando com o público nos próprios pensamentos não funciona mais. Os discursos dele parecem saídos das temporadas anteriores, se repetem, cansam, trazem até sono para quem assiste.
Dessa vez, até todas as facilidades jogadas no colo de Joe incomodam. Como, após deixar um rastro de mortes, ele consegue ir a outro país com tanta facilidade? Por qual motivo ele deixa as próprias obsessões de lado para embarcar em um mistério nesse novo universo? Mais uma vez, tudo isso incomoda, não engata.
Até então, nessa primeira parte, os novos personagens que o cercam também não brilham. Nesse mundo, Joe precisa lidar com a riqueza de todos que o cercam, em meio a atitudes mimadas, uma realeza fajuta e pessoas tão malucas quando ele. Se é um choque para o protagonista, imagine para nós, espectadores.
Penn Badgley não erra
Entretanto, nem tudo é perdido e Penn Badgley continua perfeito no que se propõe. É ele quem exala carisma, torna a narrativa intrigante, brilha mesmo quando o próprio personagem não o ajuda nessa tarefa ingrata. Joe Goldberg ainda é a alma de 'You' e acompanhá-lo ainda traz a sensação desencontrada de fascínio e medo diante do sociopata.
Além dele, Kate (Charlotte Ritchie), que se torna o novo alvo da obsessão doentia de Joe, também figura entre os pontos positivos. Ainda assim, ela não tem força o suficiente para se vender com o encanto das "amadas" anteriores do assassino, algo que pode mudar com a segunda parte.
Os momentos sem Joe são chatos, não tem outra palavra. Compreensível uma reinvenção após o quarto ano, é necessário manter a história revelante mesmo. Porém, não acredito que seja tão sábio abdicar da figura mais forte em cena a qualquer custo.
Apesar disso, a parte inicial da nova temporada ainda é introdutória e deixa espaço para mais. O que se delimita, no fim das contas, é que 'You' possui sim força para continuar como um dos produtos mais relevantes da Netflix e tem lutado por isso, mas é interessante pensar em quais rumos irá tomar para manter o nível que sempre teve. No aguardo!