Minha filha está pra nascer, nesses dias aí que vêm. Primeira filha. Sensação de que a minha vida nunca mais será a mesma.
Você já se sentiu assim? Sensação de decidir por algo que vai mudar completamente a sua vida e que não tem muita volta? Bom, como eu fiz isso com a minha, vou te estimular a fazer isso com a sua (hahaha), porque, apesar de todo medo, é bom. E aqui não estou falando de filhos. Estou falando de decisões. É ruim demais tomar decisão, minha nossa senhora.
A gente se acostuma de alguma forma a não abdicar das coisas e quer tudo. Mas digo, com propriedade, é impossível decidir por algo – principalmente aquelas decisões enormes, que mudam a vida – sem abdicar de outra coisa.
Eu sempre esperei a vida abdicar pra mim porque eu sempre preferi (óbvio) culpar a vida, o destino, o signo ou o que seja, pelas coisas que perdi com minha decisão. Porque tomar uma decisão conscientemente é assinar a minha culpa de perder pelo que eu não decidi. Esse arrependimento eu não queria ter. Em vão.
Em algum momento, vai acontecer. Vamos ter que decidir, vamos ter que aceitar e lidar com a frustração. Mas faz parte do processo, faz parte do viver, faz parte. Vamos nos arrepender, vamos sentir saudade do tempo em que não tínhamos que decidir nada. Mas a barra fica dura demais pra que você deixe a vida decidir. E tem uma hora que você pesa, mas apenas decide. Apenas vai, apenas abre mão, apenas tenta abrir as asas sabendo que é possível voar mesmo que o que ficou pra trás te faça pensar que elas estão cortadas.
O meu novo para sempre vem aí. Como já veio um dia: no dia em que eu mudei de país e voltei, no dia em que eu decidi a faculdade e terminei, no dia em que eu mudei de Estado e nunca mais voltei. E agora mais um, esse um grande pra sempre e pra valer.
Eu estou com medo demais, porque pra sempre terei um elo. Muitas coisas ainda viverei, muitas coisas não voltarão, muitas outras me esperam. Sem spoiler, sem ninguém contar, somente um grande desconhecido a viver.
Mas algumas outras muitas vezes, eu estou feliz demais justamente porque pra sempre terei um elo.
Torçam por mim. Torcerei por vocês. Ainda teremos que escolher tantas outras coisas que vêm por aí nessa vida sabendo que deixaremos outras mais.
Encerro aqui, por enquanto, essa coluna, com uma das citações que mais amo de Santo Agostinho:
“Se você não quer sofrer, então não ame. Mas, se você não quer amar, então para quê quer viver?”.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.