Acabei de limpar umas lágrimas por aqui. Nada demais, apenas um dia típico com uma pitada a mais de emoção na vida do adulto. O famoso “o brasileiro não tem um dia de paz”. Sempre fui metida a Peter Pan, nunca quis logo ser grande, sempre quis ser pequena – eu queria ser grande pra alguém um dia. Fazer algo bom pra alguém. Papai falava sobre isso com naturalidade – mas não queria ser grande pra vida em geral.
Mas existe algo bom à medida em que as responsabilidades vêm, a única opção que temos: lidar com elas. Quando jovens fugimos, a mãe vai lá no colégio e diz: “ele é um menino bom, só é agitado demais”, “eu vou dar um castigo nela, mas não vai mais acontecer”, quando adultos temos que enfrentar.
Enfrentar parece ser ruim demais. O que quer que seja. A gente nem quer ser guerreira,a gente nem tá pronto. A gente quer é ter paz, é poder relaxar a mente que virou uma geradora de problemas muitas vezes liquidificados que não conseguimos mais separar.
Mas insisto, há algum motivo disso acontecer quando somos adultos, nesse superar as controvérsias dessa vida. Justamente, porque, quando adultos, depois de alguns anos dessa vida, colhemos muitas coisas pelas quais queremos viver.
Viver, à medida que crescemos, parece fazer mais sentido. Talvez porque agora, mais conscientes, sabemos que há muito ainda a viver, há algo já conquistado, há pessoas que amamos e que nos amam.
Hoje queria fugir e pensar em ainda cuidar da minha filha me dava um desânimo. Sem escolhas, cuidei. E foi cuidar dela que me fez sentir melhor e viva, forte. Não que eu ainda não optasse por um dia em um resort mas ela me lembrou de não esmorecer tanto assim.
Hoje nem queria escrever e agora, escrevendo, porque tenho o compromisso de escrever, me sinto melhor. Foi adulta que descobri o quão bem me faz escrever.
É mais ou menos um sistema compensatório que não temos na adolescência onde tudo parece ser efêmero. Um relacionamento que acaba parece que leva a vida da gente. Mas agora sabemos que não leva. Que leva em frente, embora não sem dor, um pedacinho de nós, que nos deixa marcados mas não mais tão doídos. Que há muito mais vida.
Na vida adulta, as coisas pesam mais porque parecem valer mais. É como se compensasse não sucumbirmos porque sabemos o porquê de não sucumbirmos, porque sabemos agora mais do que nunca o valor da vida, porque as vezes dependem de nós e é essa dependência que nos faz termos motivo de superarmos.
É porque amamos demais nossos filhos, nosso cachorro, nossos pais. Porque aprendemos a amar com mais maturidade. É como se estivéssemos prontos pra enfrentar porque agora há um plano de fundo e não somente um palco vazio que dançamos conforme a música. É como se agora houvesse desejos firmes e amadurecidos a conquistarmos. E por isso tantas vezes a gente toma um café, as vezes tristes, mas pra seguirmos despertos porque sabemos do porquê despertar.
É estranho mas compreensível. E penso isso não porque me acho capaz de superar tudo mas quando olho pra trás e vejo os motivos que segurei pelos cabelos. E aqui estou. Hoje triste, aqui estou, segurando com força, pelas raízes, meus motivos e minha lembrança de que vai passar.
Lembra do meu pai que citei no começo do texto? Hoje, grande, me vejo tão parecida com ele. Eu nem tinha esse olhar e hoje tenho. O olhar do adulto pro adulto. De ver o quantos somos parecidos até em coisas que eu não queria ser. Quando ele ouvia música clássica e não queria muito ser interrompido, devia estar pensativo que nem eu hoje. Quando ele abria a revista caras e marcava com um marca-texto aquelas poesias da primeira página como um refúgio de seus monstros. Como se ele se entendesse naquela poesia. Hoje, de adulto pra adulto, consigo ver os monstros que ele encarou por nós, quando nem queria.
Depois que viramos adultos é como se a vida fosse feita pra encarar e encarar fosse o necessário pra nos dar mais vida. Não um grande prêmio no final de tudo, mas de pequenos troféus que a vida adulta nos dá.
Desculpa se pareci muito otimista. Não quis. Quis parecer mais, sei lá, esperançosa.
Espero ter sido compreendida, se não, fica aqui um trechinho de uma das poesias da primeira página da revista caras que meu pai sublinhava:
“O que vale é o ser humano E sua dignidade Vivemos num mundo insano Queremos mais liberdade, Pra que tudo isso mude Certeza, ninguém se ilude Não tem tempo, nem idade”
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora