E esse novo acelerador de áudio do Whatsapp?

Acelerar áudios é um amigo antigo de quem estuda ou estudou para concurso. Muitas vezes sem tempo, ouvimos a aula duas vezes mais rápido para entender uma matéria ali emperrada que a gente não aprende. Que recurso maravilhoso! A melhor invenção dos últimos tempos.

E agora veio no Whatsapp. Confesso que eu já sentia certa ansiedade nos tempos de concurso quando as pessoas falavam pessoalmente muito devagar, tamanho hábito de ouvir aula acelerada.

Eu queria ouvir logo o que elas tinham pra falar e resolver, quando, na verdade, todo mundo tem seu tempo de falar, de botar pra fora, faz parte da fala, faz parte principalmente da escuta.

Escuta essa que cada vez menos estamos dispostos. Ouvimos muito, escutamos menos. Não temos mais paciência pra esperar, pra entender, pra ouvir.

Meu marido fala e eu estou no celular, nem ouvi o que ele tem a dizer. Falamos mil vezes um pro outro: “resume”. Essa seleção de como queremos ouvir os outros é um pouco assustadora.

Eu falava isso pra mamãe (ok, ela é bastante prolixa). Mas hoje, quando vou pra Fortaleza, sua voz parece música. Um faroeste caboclo de mil minutos que hoje é como se fosse um lançamento de uma gravadora pra mim.

Faminta de ouvir sua voz somada ao sorriso e aos olhos dela já que pouco tenho sua presença física. Tenho saudade da voz, da expressão, da demora da história.

Mas o que tem de errado em ouvir áudios acelerados? Eu mesmo escuto muitos longuíssimos de trabalho que poderiam ser resolvidos em 20 segundos. Eu mesmo escutarei vários acelerados. Nada de errado, inovação, que recurso maravilhoso.

Deus me livre problematizar muita coisa, eu estou achando tudo tão complicado e confuso que estou utilizando o máximo que posso a minha versão prática.

O que não nos impede de pensar sobre as coisas. Só quero deixar mesmo o post it pregado aí na nossa folha de novidades de aceleração do áudio. Ainda bem que não existe um click pra acelerarmos tudo, já que, por vezes, já andamos apressados demais.

Creio que o medo de não conseguir mais ouvir as pessoas pessoalmente em seus ritmos seja relevante apenas pra que eu lembre que, na vida real, não existe nenhum recurso que acelerará isso, e que a escuta, por mais tecnológicos que sejamos, é importante, necessária, gostosa, indispensável – às vezes pra quem fala e tantas pra quem ouve.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.