Com a proximidade da virada do ano, cabe avaliar o desempenho da economia nordestina em 2022 e as perspectivas para 2023. Para tanto, vou utilizar inicialmente o indicador diário de atividade econômica do Itaú Unibanco (IDAT), com sua quebra regional. Antes de avaliar os resultados, é preciso reconhecer uma limitação desse indicador, qual seja a de se referir apenas a compras presenciais feitas com cartões de crédito e débito, sem capturar transações online.
O componente de serviços no Nordeste registrou expansão de 3,2% no ano, até novembro, perdendo apenas a para o crescimento observado na região Centro-Oeste (3,6%). Já o componente de bens registrou contração de 15,7%, mais suave do que o observado nas outras regiões do país – a contração do consumo de bens reflete em boa medida a normalização do padrão de gastos, com a superação dos piores efeitos da pandemia e a retomada da circulação social, ainda que também incorpore efeitos do aperto da política monetária.
Cabe assinalar que todos os componentes do IDAT-regional mostram contração nos últimos meses, consistente com um quadro de acomodação macroeconômica. No que se refere ao consumo de bens, o máximo parece ter ocorrido no primeiro trimestre, enquanto os gastos com serviços atingiram o pico entre abril e julho. As tendências valem para todas as regiões, mas a alta inicial do setor de serviços foi mais intensa no Nordeste.
Considerando os componentes dos gastos regionais, foram destaques positivos os dispêndios em recreação (alta de 8,0% até novembro) e restaurantes (crescimento de 6,3%). Isso provavelmente captura parte da retomada do setor de turismo, que tem peso relevante para a atividade econômica nordestina. Já quanto ao consumo de bens, o único subcomponente a registrar expansão foi o item “supermercados”, refletindo o crescimento da renda, e o pior desempenho foi no item “móveis e eletrodomésticos”, que tende a ser mais sensível à evolução do crédito.
Note-se, contudo, que o item serviços de recreação teve queda acentuada nos últimos meses, provavelmente por uma desaceleração do turismo, o que deve ser revertido durante o verão.
Estimamos que o PIB do Nordeste deve ter registrado expansão de 5,4% em 2021, acima do crescimento nacional, compensando a queda mais intensa observada em 2020.
Projetamos expansão de 3,0% para o PIB nacional em 2022, com expansão de 3,2% no Nordeste. Já para 2024, projetamos crescimento nacional de 0,9%, e o mesmo patamar, em uma projeção preliminar, para a economia nordestina.
A expectativa de desaceleração para a economia brasileira, e a da região Nordeste em 2023 reflete basicamente três fatores. Com o aperto monetário global observado em 2022, é de esperar um desaquecimento da atividade geograficamente espraiado, que irá inevitavelmente nos impactar ao longo dos próximos trimestres.
No país, o ajuste de política monetária começou mais cedo, e seus efeitos, defasados e cumulativos, ainda estão ocorrendo, com impacto mais significativo na demanda por bens de consumo duráveis. Tivemos, em 2022, a última etapa da normalização das atividades em setores como transportes aéreos e turismo, este último particularmente importante no Nordeste – esse impulso extra não é de natureza recorrente. Será provavelmente um ano mais desafiador, do ponto de vista da atividade econômica.