Considerações sobre a inflação no Nordeste em 2022 e o que esperar para este ano

A inflação brasileira atingiu 5,8% em 2022. Com isso, a inflação ficou bem acima da meta, de 3,5%. A inflação nordestina ficou um pouco acima da nacional, 6,0%, marcando o terceiro ano consecutivo em que os preços sobem mais rapidamente na região do que no resto do país. Mesmo assim, cabe assinalar que a inflação recuou de forma expressiva entre 2021 e 2022, caindo de 10,1% para 5,8% no país, e de 10,5% para 6,0% no Nordeste. 

Considerando as regiões brasileiras, a inflação ficou abaixo da média nacional no Sul (4,4%), Centro-Oeste (5,4%) e Norte (5,6%), e acima da média no Nordeste (6,0%) e Sudeste (6,2%). A capital menos inflacionária em 2022 foi Porto Alegre (3,6%), enquanto as metrópoles do Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo, registraram maiores pressões inflacionárias (taxas de 6,6%). 

Além dos efeitos humanitários diretos, os mais importantes, a pandemia teve impactos sociais e econômicos. Entre esses, cabe mencionar a aceleração da inflação. Os preços subiram, em geral, cerca de 22% no país desde 2019. Os preços subiram mais no Nordeste, 23,1%.

A capital menos inflacionária dentro da região foi Aracaju, com elevação de 21,6%, ao passo que a inflação, no triênio, atingiu 22,8% em Salvador, 23,2% em São Luís, 23,4% no Recife, e 23,7% em Fortaleza. Ampliando o foco geográfico, as capitais menos inflacionárias, desde o início da pandemia, estão nos extremos geográficos do país, Belém (inflação acumulada de 19,4%) e Porto Alegre (19,9%).  As capitais mais inflacionárias, por sua vez, estão na parte oeste do país, Rio Branco (25%) e Campo Grande (24,7%). 

A inflação é essencialmente um fenômeno monetário, que se manifesta, de forma heterogênea, pelo sistema de preços. Em 2022, a inflação nordestina foi liderada pelos preços livres, estabelecidos nos mercados de bens e serviços, que registraram elevação entre 8,8% (em Fortaleza) e 10,0% (em São Luís). Já os preços administrados recuaram entre 6,8% (São Luís) e 2,9% (Fortaleza).

Preços livres

A inflação dos preços livres foi, por sua vez, liderada por dois subitens, alimentação no domicílio e preços industriais. A inflação da alimentação, a mais relevante do ponto de vista social, variou de 11,2% em Aracaju a 12,7% em Salvador. Já a inflação de produtos industriais, mais relevante para a classe média, oscilou entre 10,3% no Recife e 13,8% em Aracaju. A inflação de serviços, por sua vez, foi menor do que as dos demais componentes – em geral, a inflação de serviços é a última a subir, e também a desacelerar, quando temos um ciclo inflacionário. A alta dos preços de serviços variou entre 6,4% em Fortaleza e 7,5% em Salvador. 

E quanto a 2023? Os economistas do Itaú projetam inflação de 5,8%, estável perante o ano passado, para o IPCA nacional. Há razão para supor, contudo, que a inflação nordestina pode ficar em patamar inferior. Isto porque o componente mais persistente do índice é a inflação de serviços, cujo peso é sensivelmente mais baixo no Nordeste do que no restante do país (cerca de 30%, ante 35%) – é nos preços dos serviços que os hábitos de indexação continuam se manifestando. Os índices inflacionários da região tendem a ser beneficiados pela desinflação dos alimentos e de produtos industriais, e a inflação nordestina pode ficar abaixo da nacional.