Supercampeã no boxe, Bia Ferreira é a força nordestina em modalidade ainda dominada por homens

Baiana, de 29 anos, tem conquistas importantes, como campeonato mundial e medalha de prata olímpica

Da influência familiar à rápida ascensão que a levou a onde nenhuma outra mulher brasileira havia chegado no boxe: a final olímpica. Beatriz Ferreira abre caminhos para que outras se espelhem em sua trajetória e ocupem espaços possíveis, mesmo onde as barreiras ainda predominam. Em entrevista à coluna, a pugilista falou sobre carreira, conquistas, dificuldades e a transição para o boxe profissional. 

Contrariando a máxima: “Em time que está ganhando não se mexe”, Bia resolveu buscar novos desafios em um dos momentos mais vitoriosos da carreira. Medalhista de prata nas Olimpíadas do ano passado e no Mundial deste ano ela está em um processo de transição para o boxe profissional, onde deve fazer sua estreia em outubro, sobre os novos desafios ela destaca:

"Acho que eu precisava dessa adrenalina nova [...] Não que eu não tenha no olímpico, mas é um empurrãozinho a mais, então estou muito animada. Me preparando ao máximo para poder representar bem, assim como eu faço no olímpico, agora também fazer no profissional. Representar o nosso país, as meninas do nosso Brasil e mostrando que o nosso boxe é forte.” 

E desafios não faltaram durante a carreira de Bia, que aos 29 anos acumula títulos e medalhas. Apesar do contato com a modalidade desde a infância, por referência do pai, o pugilista campeão brasileiro, Raimundo Ferreira, mais conhecido como Sergipe, a carreira oficial de Beatriz só chegou a começar em 2014, no Campeonato Brasileiro da modalidade. Mas acabou sendo suspensa por dois anos, porque havia lutado muay thai e isso foi proibido em regra da Associação Internacional de Boxe Amador. 

Bia e o pai: grande influenciador da carreira no boxe:

 

Do baque à reserva olímpica de Adriana Araújo, na Rio 2016, que instigou ainda mais que Bia insistisse na carreira de atleta. Viver tudo o que representam os Jogos foi impulso para uma guinada na carreira. Os títulos pan-americano e mundial vieram na sequência. 

O sonho olímpico se tornou realidade em Tóquio. O ouro não veio, mas a prata é muito valorizada e a busca pelo lugar mais alto do pódio vai persistir até Paris 2024. 

 

 

A rotina de treinos tem se tornado ainda mais intensa com a proximidade da estreia no profissional:

“Tenho dois períodos de treino. De manhã, costuma ser físico e à tarde, o treino de luta, onde tenho feito minha preparação separada com foco para o profissional.Para o olímpico, treino junto com a seleção olímpica permanente do Brasil.”
 

 

Como é ser mulher em um ambiente ainda dominado por homens? 

Primeira mulher brasileira a chegar à final olímpica, Bia lida com outras questões, típicas de uma mulher que tem que desbravar caminhos ainda mais difíceis, simplesmente, por ser quem são. Mas apesar disso, ela vê evolução: “O boxe acaba sendo visto por muitos como um esporte a ser praticado por homens, por envolver luta. Mas acredito que aos poucos as mulheres vêm mostrando  força e ganhando seu espaço. Nós mulheres temos conquistado grandes resultados e estamos mostrando que todas nós podemos estar no boxe e competindo de igual pra igual.” 

 

 

Nordestina raiz, Bia faz questão de manter a relação com a cidade em que nasceu: Salvador. E reforça: “Tenho um carinho enorme pelo Nordeste”. 

A atleta tem a consciência de que se tornou um referencial para muitas meninas, que sonham em seguir o mesmo caminho. E destaca alguns pontos importantes para quem quer seguir na modalidade:

"O boxe é um xadrez quanto mais você treina aquele movimento, a defesa, o ataque, você vai ficando cada vez melhor, então é realmente treinar, nunca vai estar o suficiente e manter o foco, a disciplina, nós precisamos abrir mão de muita coisa. [...] Só você sabe o tamanho do seu sonho e só você pode realizá-lo.” 

Seja no boxe ou onde for, é importante conhecer histórias como a de Beatriz Ferreira, que se impõe e não se dá por satisfeita mesmo depois de tantas conquistas. É a tal da representatividade que faz a diferença na vida de muita gente.