A cearensidade que clama no sangue e na garganta de Vannick Belchior

Após lançamento da carreira onde interpreta sucessos compostos pelo pai, a cantora segue amadurecendo o estilo sem esquecer a essência de onde veio

A vida só tem graça pois sabemos que ela findará um dia, isso é inevitável! Porém, longe de levantar a polêmica se existe algo ou não depois desse plano, mas compreender a imortalidade de pessoas por suas ideias é uma realidade inquestionável. Por esse e outro motivos, seria impossível não começar o texto desta coluna sem falar de Antônio Carlos Belchior, compositor falecido em 2017, mas que segue perene na mente deste país.

De maneira inusitada, o nosso “rapaz latino americano” agora grita por uma voz singular: a de sua filha Vannick, assumindo o sobrenome do pai e todo vozeirão que parece estar no sangue, lançando agora carreira musical. Esse início aconteceu ano passado após a gravação de um single com duas pérolas do sobralense, “Divina Comédia Humana” e “Medo de avião”.

Logo que ouvi a cantora pela primeira vez, estranhei a semelhança da voz com a de Belchior, a gravação assusta diante a identidade de ambos se cruzarem na interpretação de tais sucessos do compositor. Além disso, a própria imagem de Vannick lembra muito o eterno Bel.
 

Depois que ouvi bastante o trabalho fonográfico e, com meses de atraso, venho agora escrever sobre essa grande voz que podemos assistir nascer. Não quero fazer resenha do single, pois este, muitos já escreveram nos mais diversos veículos. Quero agora falar da cantora que vem amadurecendo a cada apresentação.

Influências musicais

Desde muito cedo, já acompanhando o pai em alguns shows, o elo de Vannick com a música já era muito forte, mesmo assim ela não pensava em seguir carreira até ano passado, quando o maestro Tarcísio Sardinha pediu para lhe ouvir cantando em uma roda de choro. Ao fim da música, o veterano afirmou: já sei com quem vou tocar para matar a saudade de Belchior!

Depois do olhar atento do musicista, a vida da então estudante de direito mudou completamente, foi tudo muito depressa e natural mesmo que o destino já lhe mostrasse isso. “A música sempre gravitou na minha órbita” foi o que me contou Vannick por telefone e a afirmação faz todo sentido.

A escolha do repertório também fluiu nesse sentido e cantar o pai foi um momento de reconexão, redescoberta de Belchior na vida da artista. “De certa forma, interpretar a música dele nesse projeto é preencher alguns vazios e entender certas questões pessoais, é o novo encontro com meu pai”, comentou a cearense.

Mesmo que ainda não tenha completado nem vinte cinco anos de sonho, sangue e América do Sul, a jovem se mostra ciente da responsabilidade de subir nos palcos e seguir um ofício tão exigente em muitos sentidos, ainda assim, ela veste essa maturidade e pretende alçar novos passos. 

Por hora, seus planos é explorar ainda mais o repertório de Belchior, principalmente as músicas pouco conhecidas do grande público, o que é fantástico, porém, ela não descarta em um futuro se lançar como compositora também: a responsabilidade é muito grande, eu já tenho algumas letras, mas ainda preciso de tempo para lançar. Agora, quero continuar trabalhando com as composições do meu pai. É uma ligação muito importante!

Projetos futuros

A vida como cantora profissional de Vannick começou no meio de uma grande pandemia, nem por isso impediu a intérprete de brilhar, ao contrário, reforça sua gana diante um amor antigo que é a arte e que não podia ser esquecida assim. Além disso, é bonito assistir a construção e amadurecimento de alguém que tem tudo para ser uma grande artista.

“Somos sujeitos de sorte” e Vannick é uma esperança de que “esse ano não morreremos” sem resgatar a boa música brasileira. Mesmo que a força desse destino leve a isso, ela caminha preparada para os desafios que o mundo fonográfico pode lhe proporcionar. 

Os cearenses possuem vozes muito peculiares, o que distingue nossos cantores dos demais nordestinos. Isso me deixa entusiasmado na filha de Belchior, ela carrega essa herança tão nossa de canto. Espero também que todo esse talento percorra por sucessos de outros artistas do Estado que merecem ser lembrados.

Vannick é digna de todo reconhecimento, não somente pelo sobrenome que carrega, mas pela musicalidade e sinceridade que existe em suas veias, até o seu sorriso remete um ar de Elis Regina, para afirmar que nem tudo está perdido. Ela realmente sabe cantar as coisas que aprendeu nos discos. Os desejos são de uma carreira longa e vitoriosa!