Bolsominions, não venham para Portugal

Bolsominions, não venham para Portugal. Mas, se vierem, não reclamem do que irão encontrar por cá. Não terá sido por falta de aviso. Nos últimos dias, vídeos na internet já viralizaram, dando o recado.

Em um deles, um cidadão português tomou o cuidado de listar sete motivos para nenhum bolsonarista colocar os pés deste lado de cá do Atlântico. “Portugal está muito atrasado em relação ao Brasil de Jair Bolsonaro, é horrível”, diz ele, irônico.

“Aqui o aborto é legalizado”, informa. É verdade. “O consumo de drogas não é crime e até se fala em legalizar a eutanásia”, acrescenta. Também é fato. “A esquerda está em maioria no poder! Não temos nem sequer uma bancada de deputados evangélicos!”, avisa o gajo, com toda razão.

“Mais de 90% da população está vacinada contra Covid 19”; somos grandes cordeirinhos”, ressalta, apresentando números corretos. “Se a polícia bate em alguém aqui, as pessoas revoltam-se; bandido bom não é bandido morto; é bandido reintegrado na sociedade!”, enfatiza, com redobrada ironia.

“O pessoal de cá está preocupado com a Amazônia e com a questão climática”, finaliza a lista de “absurdos”. “Se é pra votar no Bolsonaro, então acho que não vale a pena virem para Portugal”, conclui.

Há várias versões do vídeo — e de outros no mesmo sentido. Se algum bolsominion desavisado ainda insistir na ideia de vir para um país governado por um primeiro-ministro do Partido Socialista, partido que também desfruta da maioria no Legislativo, cabe lançar uma última advertência.

Meses atrás, o jornalista Manuel de Carvalho, editor-chefe de um dos principais jornais portugueses, o “Público”, escreveu um editorial contundente, na qual declara, com todas as letras: “Os bolsonaristas, os criminosos, os que querem reconstruir nas nossas cidades as fortalezas dos condomínios fechados ou fazer quartos interiores indignos para as suas ‘babás’ não são bem-vindos”.

A escritora portuguesa Inês Pedrosa, autora de romances extraordinários, também se posicionou a respeito. No Twitter, sapecou: “Aviso aos bolsonaristas que estejam a fazer as malas: em Portugal aborto e casamento gay são legais, a escola ensina igualdade de gênero e o governo é socialista. Por favor, não venham para cá. Agradecida”.

Acrescento: por cá, a maioria dos estudantes, incluindo os de classe média, frequentam o ensino público. Nas reuniões com os professores na escola de minha filha, por exemplo, pais e mães advogados, engenheiros e jornalistas sentam lado a lado de outros que são operários da construção civil, empregadas domésticas e pequenos funcionários.

Posso ainda adicionar outro motivo para os bolsominions chorosos com a derrota de seu “mito”. Aqui, em Portugal, o controle de armas de fogo é extremamente rígido. Ninguém, principalmente deputado ou deputada, sai correndo no meio da rua, de revólver em punho, atrás de um negro desarmado.

Além do mais, a maioria dos brasileiros que vive aqui detesta Bolsonaro. Na eleição do segundo turno, Lula venceu por 12.872 contra 7.085 votos. No Porto, cidade onde moro, a lavagem foi de 64,8% a favor do candidato vitorioso.

“Todos nós temos muitas saudades do Brasil e esta é uma nova oportunidade para nos reaproximarmos neste ano em que assinalamos os 200 anos da independência do Brasil”, disse o primeiro ministro português, Antônio Costa, ao outro grande jornal do país, o “Diário de Notícias”.

Portanto, como recomendou uma moça brasileira residente em território português, em mais um desses vídeos que viralizaram nos últimos dias, há outras opções para os bolsonaristas que porventura queiram migrar para um país que corresponda a seus sonhos delirantes de nação.

Que tal, por exemplo, diz ela, “um país onde todo mundo anda armado, a religião controla o estado, ninguém toma vacina, ser gay é crime, os homens batem nas mulheres, não existe STF e o voto é impresso?”

Gostaram bolsominions? Então corram para lá. É o Afeganistão!

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.