Só estive com Dedim Gouveia uma única vez, em 2017. A simplicidade foi o que mais me marcou naquela entrevista. Na época, o motivo da nossa conversa não foi tão agradável — um conflito dele com outro sanfoneiro. Apesar disso, ele não se fechou para nosso encontro em uma delegacia de Fortaleza e foi super cordial.
Aos meus 24 anos, tentando tirar dele uma verdade sobre o caso, fiquei surpreso com as respostas dos meus questionamentos. Sem arrodeio, respondeu cada indagação com zelo. No final do bate-papo, questionou se havia ficado com alguma dúvida e que estava disposto a tirar qualquer dúvida.
Sem amarras de assessoria ou medo, ele não exitou em esconder nada. Digo que se fosse com um nome novo do mercado estaria se revestido de notas publicadas em redes sociais.
E é só aquela entrevista com Dedim Gouveia que guardo da memória e no meu currículo. A ausência de matérias da minha parte não foi por falta de fama ou interesse nele, mas pela distância de eventos na agenda do forrozeiro. Ele tinha um cronograma de shows localizados no interior do Ceará e até além do estado.
Aos meus olhos e ouvidos, Dedim Gouveia foi marcado pelo bom humor e irreverência. Algumas letras pesadas são destacadas na carreira do forrozeiro, não é possível esconder isso. Mas é preciso entender — não na totalidade — que aquele som é o registro da identidade de um público. Como bom cearense que ele foi, sempre soube brincar com quem o acompanhava. O bom entendimento das partes, fãs e artista, foi visível em shows.
É triste ver a Covid-19 levando um nome tão forte para o gênero nordestino. Que a passagem de Dedim Gouveia sirva para alertar aos mais jovens e mais velhos que o coronavírus ainda é uma realidade. Que o cearense Chico Bill abra as portas da grande casa de forró que existe no céu.