Com quadro escolar e giz, Cid Gomes 'dá aula' a presidente do Banco Central e cobra exoneração

O senador anotou números da inflação, da taxa de juros e do desemprego para falar dos impactos da política econômica

O senador Cid Gomes (PDT) resolveu "dar uma aula", ou algo do tipo, ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante audiência pública no Senado nesta terça-feira (25), para criticar que a instituição não está cumprindo o dever constitucional de combater a inflação e o desemprego.

Cid disse que iria "voltar aos velhos tempos" e, com quadro escolar e giz, anota números da inflação, da taxa de juros e do desemprego no Brasil, fazendo comparativo com os mesmos números registrados nos Estados Unidos. Com a taxa de juros foi a mais alta da história, 4,5%, para combater uma inflação de 6,5%, os EUA fecharam 2022 com desemprego de 3,5%. No Brasil, mesmo com a  inflação mais baixa, de 5,8%, a taxa de juros terminou o ano em 13,75%, com desemprego de 9,3%. 

"A conta que eu faço é que, se o Brasil praticasse a taxa de juros da 'meca do capitalismo', teria economizado 510 bilhões de reais", disse o senador.

O senador faz ainda uma série de contas para dizer que os recursos poderiam ser usados para triplicar o número de escolas no País, construir estradas e aumentar o acesso ao programa Bolsa Família, por exemplo.

"Isso é o governo fazendo papel de Robin Hood às inversas. O Robin Hood tirava dos ricos para distribuir entre os pobres. O governo brasileiro, leia-se Banco Central, tira dos pobres, tira do orçamento da União 510 bilhões de reais para concentrar nas mãos de ricos", disse Cid.

Roberto Campos Neto está sendo ouvido na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, em um contexto de forte pressão política em relação à taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%, desde agosto do ano passado.

"Juro alto, além de comprometer as finanças públicas, compromete a disposição da iniciativa privada de investir", afirmou.

"Pegue seu bonezinho"

Cid ainda fez críticas a Campos Neto pelas relações políticas com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com manifestações públicas durante a campanha eleitoral.

No Banco Central, no Brasil, é impressionante e não acredito em coincidências, as pessoas vêm do mercado financeiro e voltam para o mercado financeiro. Nessa hora, eu queria lhe fazer uma sugestão pegue seu bonezinho e peça para sair", disse Cid.

Ao responder, o presidente do BC fez críticas à comparação de Cid. "Sempre lembrando que é bom comparar média com média. A inflação é um período de 12 meses, e a Selic, a ponta. De fato a taxa real de juros é alta, mostrei que ela já foi muito mais alta do que hoje é a média. Não significa que hoje ela não seja alta e a gente não precise combater", pontuou.

Ele também explicou as diferenças das definições de taxa de juros entre Brasil e Estados Unidos para justificar os valores mais altos praticados pelo Banco Central. 

"O Banco Central não é culpado de todas as mazelas aí descritas. (...) Reconheço os problemas e vamos trabalhar no problema", disse ainda.