Lojas das Casas Bahia podem fechar no Ceará após recuperação extrajudicial? Entenda impactos

Rede varejista pode sofrer achatamento em nome da otimização do custo de operação, segundo especialista ouvido pela reportagem

Fechamento de lojas e mudança no mix de produtos ofertados pelas Casas Bahia devem ser notados pelos clientes daqui em diante. No último domingo (28), a varejista anunciou um acordo de recuperação extrajudicial, que é quando a negociação das dívidas é feita diretamente com os credores para só depois ser homologada pelo judiciário, o que ocorreu ainda na segunda-feira (29).

Na manhã do mesmo dia, em call para o mercado, o CEO do Grupo Casas Bahia, Renato Franklin, falou sobre a continuidade do reperfilamento da dívida da varejista. Desde o ano passado, a empresa passa por transformações.

“Tem muita coisa para fazer de redução de custos diretos, bastante coisa em otimização de mix”, disse. Além disso, ele também mencionou “evolução nas soluções financeiras da companhia”, especialmente tratando do crediário. “Trabalhando com novos produtos para o nosso público consumidor”.

A coluna demandou o Grupo Casas Bahia para um detalhamento do que representaria, para os consumidores do Ceará, a redução de custos diretos e otimização de mix, bem como para explicar como seria essa evolução do crediário. Em resposta, a companhia informou que não tem planos, "no momento", de fechar alguma das 30 lojas no Estado.

Com relação ao mix, as Casas Bahia responderam que priorizam produtos ligados às categorias onde têm "relevância e liderança", que são celulares, TV e áudio, linha branca, eletroportáteis e móveis. Para atender o Ceará, o grupo possui um Centro de Distribuição em Maracanaú.

Sobre as mudanças no crediário, a empresa informou que "dá para considerar que o Plano de Transformação prevê um aumento da carteira de crediário, maior penetração em modelos ainda pouco penetrados como o crediário online", explicou.

Das 30 lojas Casas Bahia no Ceará, 19 estão em Fortaleza e Região Metropolitana, conforme informações do site da varejista atualizadas em dezembro de 2023. No Centro da Capital, as Casas Bahia ocupam alguns dos espaços comerciais mais emblemáticos, no entorno da Praça do Ferreira, Rua General Sampaio.

Para reduzir custos, lojas devem ser fechadas, avalia consultor

Na avaliação de Christian Avesque, professor e consultor em Varejo, a redução de custos mencionada pelo CEO do grupo, para além do fôlego obtido a partir do novo tempo para o pagamento da dívida com Banco do Brasil e Bradesco, deve passar pelo fechamento de 20% a 30% das lojas físicas da companhia. Em 2023, as Casas Bahia já haviam anunciado o fechamento de até 100 lojas e demissão de seis mil colaboradores em todo o País durante o ano passado.

Deverá haver uma sinergia muito forte das lojas, fechando provavelmente de 20% a 30% das que são deficitárias. Isso deve reduzir o custo de operação por metro quadrado e o custo de folha de pagamento por metro quadrado”
Christian Avesque
Professor e consultor em Varejo

Ele detalha que o terceiro ponto no escopo da redução de custos é a desmobilização de capital. “É aí que entra a questão do mix de produtos, que provavelmente deve sair um pouco dos eletros e móveis mais caros para itens de giro mais alto, irrigando assim o fluxo de caixa. Isso pode incluir utilidades, a parte mais leve do home center, decoração de casa”, destaca o consultor.

“(O produto de giro mais alto) é o lote que ele ‘bate e sai’, para que o capital não fique imobilizado e não tenha uma operação de forfait (risco-sacado), que é o estoque parado e a rede varejista vai no mercado financeiro, capta dinheiro e deixa a venda desse bem futura como um recebível, mas se não conseguir girar fica um buraco”, explica o consultor.

Ele lembra o que ocorreu com as Americanas, que também optou por mudar o mix de produtos, focando em itens com giro maior. “O foco é aumentar o giro para irrigar o fluxo de caixa, mesmo perdendo um pouco de margem e tíquete médio, mas pelo menos o caixa fica mais líquido, com mais disponibilidade”.

Para Avesque, as grandes varejistas caminham para “se tornarem cópia de grandes marketplaces asiáticos”. “Tem uma tendência de venda de eletroeletrônicos e eletrodomésticos de alto valor pelas próprias indústrias nesses marketplaces, diretamente para o consumidor final, deixando as varejistas cada vez mais imprensadas. A indústria vai dependendo cada vez menos das varejistas”.