Descompasso entre avanço da energia solar e linhas de transmissão gera temor de 'fuga de capitais'

Setor, em audiência privada com o governador Elmano de Freitas, pediu apoio do político junto ao Congresso e junto ao executivo nacional para investimentos em linhas de transmissão

Investidores que têm seus parques solares instalados no Ceará temem uma "fuga de capital" em meio ao descompasso entre o avanço da energia solar fotovoltaica e as linhas de transmissão disponíveis para escoamento dessa produção. "De fato nos preocupa que vá ter uma fuga de capital e também, eventualmente, uma quebra das empresas que aqui estão", disse Carlos Dornellas, diretor técnico da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

De acordo com Dornellas, o Ceará é o estado onde mais tem ocorrido "cortes de geração renovável" em resposta à redução das linhas. "Existem linhas de transmissão que estão sendo construídas e serão entregues, mas não é algo imediato. Linha é um investimento da ordem de cinco a sete anos. Um investimento de geração solar fica pronto em no máximo dois anos, então há um descompasso que compromete, sem dúvidas, o escoamento de energia".

"Nos últimos dois anos, o prejuízo estimado é de R$ 1 bilhão, contabilizando eólicas e solares. O Ceará tem ultimamente sido muito afetado por conta dessa questão mais específica", destacou Dornellas em entrevista à coluna durante o Proenergia Summit 2024.

Audiência privada sobre o tema

Diante da preocupação, Dornellas revela que empresários do setor de energia solar se reuniram na última quarta-feira (11) com o governador do Ceará, Elmano de Freitas, em uma audiência privada para pedir apoio político em relação ao tema.

"Ele (Elmano) foi muito receptivo, compreendeu a situação e se mostrou preocupado, engajado com a causa. Fez várias perguntas inteligentes e mostrou muita proatividade falando que vai procurar principalmente o Congresso para que a gente consiga de alguma forma equacionar esse ponto. Os cortes físicos vão acontecer, de alguma forma. O que nós queremos é que não haja comprometimento financeiro".

Dornellas citou ainda o gargalo do reembolso aos empresários que tiveram parques paralisados por deficiência na infraestrutura de transmissão. "Na nossa avaliação, está garantido por lei, mas não tem sido cumprido, fazendo com que essas empresas percam investimentos que foram feitos. O governador disse que vai nos apoiar nessa questão principalmente junto ao Congresso, mas também junto ao Executivo. Ele iniciou os contatos ainda durante a reunião, mas estamos aguardando um próximo passo mais efetivo".

Na abertura do Proenergia Summit 2024, na última quarta, o governador Elmano de Freitas enfatizou em seu discurso o seu posicionamento de apoio às empresas do setor de energias renováveis e criticou as decisões da Aneel de não ressarcir os parques.

Desafio mundial

A presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica), Elbia Gannoum, também visualiza um descompasso entre os investimentos em renováveis e as linhas de transmissão. "Os leilões têm sido planejados e numa quantidade muito grande, mas a gente percebe ainda que, por mais que o governo tenha planejado bem, está ficando difícil atender a nossa necessidade".

Ela destaca, entretanto, que a problemática não é exclusividade do Brasil, sendo objeto de discussão também em outros países. "O mundo inteiro enfrenta esse desafio. Quando falamos de transição energética, estamos falando também do desafio de aumentar a quantidade de linhas de transmissão e isso é um problema global".

"A transmissão é a chave para o crescimento da energia eólica, solar. O Nordeste é a grande potência dessas fontes, sendo capaz de produzir para si e exportar para o resto do País, então a expansão da transmissão é uma regra", arremata Elbia.