O número de imóveis financiados com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) no Ceará caiu 15% no ano passado em relação ao ano de 2022. Apesar da retração em unidades, o valor total financiado ficou estável (+1,7%) na comparação entre os dois anos, chegando a R$ 2,97 bilhões em 2023 - no ano anterior, esse volume ficou em R$ 2,92 bilhões.
De acordo com a Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que divulgou na última quarta (24) o balanço de 2023, foram financiadas no Ceará 10.230 unidades (em 2022, foram 12.022). Março foi o mês de melhor resultado, com 1.418 unidades financiadas e R$ 345,2 milhões em recursos da poupança.
Imóveis mais caros
A cidade de Fortaleza foi uma das capitais brasileiras onde o preço dos imóveis teve alta acima da inflação em 2023. De acordo com o Índice Geral do Mercado Imobiliário Residencial (IGMI-R Abecip), divulgado pela Abecip em parceria com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a Capital cearense apresentou variação de 6% em 2023.
O resultado está acima da inflação oficial divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 4,6% para o Brasil, e de 4,8% para Fortaleza.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias, pontua que a valorização dos imóveis em Fortaleza contribuiu para a estabilidade no valor financiado no Ceará em 2023, mesmo com a queda no número de unidades financiadas.
Ele explica que a valorização é explicada por fatores como a elevação nos preços dos materiais utilizados e estoque menor de unidades. "Além disso, em 2023 nós tivemos a entrega de imóveis lançados em 2019, 2020, que são imóveis com um valor maior".
Brasil
No País, os financiamentos com recursos da poupança e do FGTS somaram R$ 251 bilhões. O resultado de 2023 foi o segundo melhor da série histórica, inferior apenas à cifra de R$ 255 bilhões alcançada em 2021. Considerando apenas os recursos da poupança, o valor financiado chegou a R$ 153 bilhões.
A inadimplência no setor também atingiu níveis históricos em 2023, segundo a Abecip, ficando em 1,4% - patamar que havia sido atingido em 2018 e 2014. Para Sandro Gamba, presidente da Abecip, o dado mostra que “a carteira de crédito imobiliário está bastante positiva e equacionada”, demonstrando “bastante segurança”, disse durante coletiva de divulgação dos números.
Projeção para 2024
A entidade fez ainda projeções para este ano, apontando crescimento de 3% no volume financiado com recursos da poupança e do FGTS. Caso a expectativa se concretize, o volume financiado chegará a R$ 259 bilhões - um patamar histórico para o setor.
“Prevê-se recuperação ao longo de 2024, na medida do ritmo da queda do juro básico, da manutenção da tendência de crescimento do emprego e da renda dos trabalhadores e, portanto, da ampliação do número potencial de mutuários”, diz a Abecip.
Patriolino corrobora que as expectativas para o mercado imobiliário em âmbito local também são positivas. "São as melhores possíveis, porque o Boletim Focus mostra que a taxa de juros vai chegar a 9% ao ano. Isso é ótimo para o mercado imobiliário, porque as pessoas voltam a sair da renda fixa".
De acordo com ele, é difícil fazer alguma projeção em relação aos preços para este ano. "Nós teremos muitos imóveis Minha Casa, Minha Vida, justamente pelo incentivo dado pelo Governo Federal com taxas que nunca existiram na história", diz. "Há um déficit habitacional muito grande nesse segmento".
Além disso, ele acredita que a classe média que teve receio de adquirir imóveis na pandemia por ter perdido um pouco do poder aquisitivo deve voltar a procurar imóveis.