Nos próximos dias, o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, deverá exibir nas redes sociais, vídeos e peças publicitárias gravadas na última semana no Interior da Bahia, na região de Euclídes da Cunha. Ele deve fazer uma analogia entre a resistência da população de Canudos, um episódio histórico, e o Brasil atual.
A Guerra de Canudos, ocorrida entre 1896 e 1897, no norte da Bahia, envolveu a comunidade do arraial de Canudos, liderada pelo cearense Antônio Conselheiro, e as forças republicanas, com o Exército brasileiro.
O enfrentamento acabou em massacre e culminou na prisão e morte por decapitação do líder religioso.
Ciro, dizem interlocutores, quer intensificar resgastes históricos para tentar mostrar como o País chegou ao momento atual e apresentar propostas para o ano que vem.
Será a quarta vez que o pedetista disputará o Planalto. Ele foi candidato em 1998, 2002 e 2018. Ficou duas vezes em terceiro lugar e uma em 4º.
Se a estratégia do resgate histórico vai convencer o eleitorado é difícil saber neste momento. O certo, entretanto, é que Ciro terá de buscar o espaço da terceira via e a missão parece ser árdua.
Até o momento, a despeito das mais altas taxas de rejeição do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido), nem Ciro nem qualquer outro nome dos partidos do campo que vai da centro-esquerda à centro-direita conseguiu capitalizar e crescer consistentemente como terceira via.
Pulverizado, o chamado Centro demonstra uma fragmentação que dificulta a união de ideias e bandeiras e assim viabilizar a formação de uma trincheira consistente na oposição a Bolsonaro.
Atuando até agora de maneira desorganizada, a oposição a Bolsonaro tem deixado lacunas em um cenário em tese favorável a um governante que busca reeleição no exercício do cargo.
Há sim espaço para uma terceira via, mas será preciso estratégia bem traçada e entendimento capaz de evitar um até previsível confronto entre Lula e Bolsonaro no segundo turno.
Embora o PT tenha tido um resultado ruim na eleição municipal do ano passado, Lula tem um capital eleitoral considerável, tanto que aparece liderando as intenções de voto na corrida presidencial.
Por outro lado, as peças que estão no tabuleiro atualmente não indicam, pelo menos em perspectiva, que 2022 será para Bolsonaro, pior do que 2021.
Nos prognósticos mais pessimistas de imunização, boa parte da população deve estar vacinada até o início do próximo ano, um indicativo de retomada econômica. Some-se a isso medidas como a reforma do Bolsa Família e outras ações governamentais que podem ser usadas pelo presidente para melhorar o seu capital político.
Busca por apoios
Se há espaço para a terceira via, o cenário que indica não será propriamente fácil de isso acontecer. Pode ser difícil a missão dos que querem chegar forte como terceira via para romper a polarização.
Nos últimos dias, um levantamento realizado por renomada consultoria em relações governamentais com membros do Congresso Nacional – deputados e senadores – aponta que a maioria dos parlamentares ouvidos considera que, entre os nomes postos, o de Ciro seria o mais forte para uma terceira via.
Isso tem sido usado por interlocutores do pedetista para reforçar as chances em 2022.
Agenda na Bahia
Na agenda que teve na Bahia, Ciro dialogou com prefeitos e lideranças pedetistas. É na boa terra que está um dos campos estratégicos para Ciro, que busca trazer o DEM para sua aliança.
O presidente nacional da sigla ACM Neto esteve em Fortaleza e se encontrou com Ciro na residência do ex-ministro.
Em Salvador, os dois partidos venceram a última eleição municipal ainda no primeiro turno, com Bruno Reis (DEM) na cabeça de chapa e Ana Paula Matos na vice.
A chave para um candidato como Ciro chegar competitivo na corrida eleitoral é formatar um arco de alianças considerável que lhe garanta mais recursos para a campanha e mais tempo de propaganda no rádio e TV.
Ciro sabe que não basta focar na centro-esquerda. Ele precisará atrair partidos de centro-direira e é por isso que o DEM se reveste de importância.
Lula, por seu turno, sabe que, dotado de uma aliança consistente, Ciro pode ser competitivo para 2022. E busca antecipar conversas partidárias, principalmente na esquerda, para minar as chances de o pedetista atrair mais partidos. Foi a mesma estratégia adotada em 2018.
No último movimento que chamou atenção da política nacional, em que o Deputado Marcelo Freixo anunciou saída do Psol para o PSB, Lula esteve no Rio, embora não tenha declarado explicitamente apoio à postulação de Freixo ao governo daquele Estado.
O movimento, claro, é maior e busca atrair o PSB nacionalmente. O partido integrou aliança com o PDT em 2020. A briga será interessante de observar.