Para atender as bases, deputados dispensam holofotes e ideologias e atuam nos bastidores

Aliados dos governos Camilo e Bolsonaro, deputados ignoram disputas políticas para levar recursos aos municípios e garantir eleição

As eleições suplementares ocorridas no último domingo (1º), embora em municípios que não estão entre os maiores do Estado, (Martinópole, Missão Velha e Pedra Branca), servem de termômetro para avaliar como estão os entendimentos regionais entre lideranças estaduais e locais para a eleição de 2022, por isso ganharam tamanha relevância.  

A eleição para as cadeiras da Assembleia Legislativa e da Câmara dos Deputados, invariavelmente, passa pelos entendimentos regionalizados.

Aqueles líderes que conseguem a maior envergadura com os gestores e apoiadores locais têm mais chance de renovar ou conseguir uma nova cadeira no Parlamento, por isso, esse tipo de disputa localizada, em véspera de eleição geral, toma tanto a atenção do mundo político. 

Mais do que isso, as articulações locais revelam uma lógica de atuação no Congresso Nacional que fica distante dos holofotes e das ideologias políticas, mas se mostra bastante efetivas para manter uma base de votos fiel. 

Atração de recursos ao Município

Do outro lado do balcão, mais do que apoio moral e eleitoral, os gestores municipais precisam de parlamentares parceiros que sejam capazes de abrir portas estratégicas para a Prefeitura.  

Com a maioria das gestões de pires na mão, a efetividade dos deputados parceiros define o que o prefeito poderá entregar de obras de maior envergadura ou serviços mais efetivos com recursos externos e isso pode significar novos sucessos eleitorais. 

Assim, abrir portas significa gozar de trânsito e interlocução, principalmente, nos poderes executivos em âmbito estadual e no Governo Federal. E isso, por sua vez, demanda apoio parlamentar aos governos – independente das ideologias. 

Personagens cearenses 

É aí que entram em cena deputados que tiveram sucesso nas empreitadas suplementares recentes no Ceará como Domingos Neto (PSD) e AJ Albuquerque (PP).

Ambos são aliados do Governo do Estado no Ceará e mantêm bom trânsito em Brasília, evitando confrontos ideológicos e com atuações voltadas às bases. E a lista não para por aí. Há outros nomes na bancada cearense que adotam estratégias semelhantes, como Júnior Mano (PL). 

Do ponto de vista político, há dificuldades em um estado do Nordeste, como o Ceará, cujo grupo governista local, que é majoritário, faz oposição ao Governo Federal comandado pelo presidente Jair Bolsonaro.  

Longe das disputas ideológicas

A necessidade de atender aos anseios dos municípios que representa e de se capitalizar politicamente para uma eleição mais tranquila que está por vir faz estes parlamentares ignorarem as disputas ideológicas e os holofotes do Congresso Nacional para atuar nos bastidores, batendo a porta dos ministérios, se alinhando eventualmente com os governos em todos os níveis e votando nos parlamentos de acordo com as circunstâncias. 

Geralmente, essas pessoas formam o chamado centro democrático, para ficar numa terminologia que agrada aos interessados, ou o chamado centrão, cuja atuação está bem caracterizada.  

A atuação destes parlamentares mantém uma semelhança no modus operandi, no entanto, foge das regras partidárias, podendo o deputado integrar qualquer legenda. 

Incômodo bolsonarista 

No Ceará, bolsonaristas até já denominaram esse grupo como sendo os deputados “melancia”, verde por fora (Bolsonaro em Brasília) e vermelho por dentro (Camilo no Ceará). No dizer do próprio presidente da República, se governa com o centrão “porque é o que tem”.

A atuação desse grupo acaba aumentando a base aliada do governo no Congresso, mas também desperta a irritação dos fiéis ao presidente, que cobram a mesma fidelidade. Evidentemente, não coseguirão.