O desfile de carros e tanques militares, ocorrido em Brasília na manhã desta terça-feira, 10 de agosto, gera um constrangimento ao País, para ficar no mínimo. O ato militar ocorre no dia de votação difícil para os interesses do presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, no caso a PEC do voto impresso.
É um exercício quase impossível acreditar em "trágica coincidência" na relação entre os dois fatos.
O passeio de blindados verde-oliva, cuja simbologia golpista foi rechaçada por aliados do presidente, não pode ser encarado isoladamente. É fato que Bolsonaro vem fazendo ameaças reiteradas à democracia, principalmente no que diz respeito à realização de eleições no ano que vem. É bom lembrar: eleição não depende da vontade do presidente. E nem dependerá.
Quase diariamente, Bolsonaro questiona o sistema eleitoral pelo qual ele e os filhos, inclusive, vêm sendo eleitos há décadas. E, acompanhado do discurso falso de fraudes, insinuações de restrição ao sagrado direito do escrutínio popular.
Quando somados, esses fatos não deixam outra possibilidade de interpretação, que não a de que o presidente, ao convocar os desfiles, tenta pressionar os parlamentares e dar uma demonstração de força, num momento em que registra perda de popularidade e enfrenta denúncias na condução da pandemia.
Ocorre que, ao contrário, foi pífia a adesão ao ato do capitão Jair Bolsonaro. Não teve adesão dos demais poderes e contou com a presença de poucos ministros do governo. Na Praça dos três Poderes, poucos apoiadores compareceram.
A cada dia, Bolsonaro parece tentar levar a vida institucional brasileira ao limite do estresse, com a geração constante de conflitos. Todos, evidentemente, menos importantes do que as tarefas do governo de propor soluções para resolver a pandemia e a crise econômica que se instalou no País.
Não penso que haja risco de ruptura ao sistema democrático brasileiro, apesar de Bolsonaro. Entretanto, vigiar é necessário. Episódios como estes são inadmissíveis.