Mufasa, no filme “O Rei Leão”, fala para seu filho Simba que “quando você morre seu corpo vira grama e o antílope come ela. E assim, estamos todos ligados no grande ciclo da vida.” Acredite se quiser, o grande clássico da Disney tem mais a ver com a vida cíclica da moda do que você imagina.
É muito óbvio o movimento que a moda faz a cada X quantidade de tempo (havia uma lenda urbana que falava que as tendências voltavam a cada 20 anos, mas os intervalos geracionais estão cada vez menores). Na pandemia, a gente viveu um período de muita escassez, logo o minimalismo tomou conta dos nossos armários.
Logo depois, vivemos uma pequena fase de maximalismo que logo foi seguida pelas girl eras - clean girl, vanilla girl, latte girl, etc - que são uma ode a uma estética tão limpa e tão branca que beira a higienização cultural.
Chegamos em 2024 com as tendências dos anos 2000 batendo em nossa porta, recordando um estilo mais desconexo e inimigo dessa limpeza anterior, uma coisa que lembra o arquétipo do “fora da lei”. Não necessariamente maximalista, apenas kafkiano.
Seria muita ingenuidade da nossa parte achar que a moda e suas tendências representam apenas uma grande frivolidade. Quando é justamente o contrário: um grande esquema de pirâmide feito sob medida para fazer você se questionar mais e mais sobre o seu estilo, hábitos de consumo e todos os impactos disso.
É impossível pensar na moda sem aliá-la à política, riqueza e tecnologia.
A moda faz parte de tudo, da pessoa que só substitui a mesma blusa há anos até o boné que o candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal, usou na sua última entrevista. Então, é impossível não pensar na moda como um grande equipamento de distinção e exclusão de quem não tem acesso nem à política, nem à riqueza ou tecnologia, quanto mais às tendências que mudam no contar do relógio.
E você nem precisa ser um grande coolhunter ou sabido das modas para saber o que vem por aí - ou sobre como seremos enganados mais uma vez. Preparem seus armários: o retorno das calças Restart vem aí.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora