O culto à magreza ainda vai matar muita gente

Muito se fala sobre a tal romantização da obesidade, que agora é “moda” querer ser uma pessoa “doente”. Mas sabe o que nunca saiu de moda? A obsessão pela magreza.

Escrito por
Elaine Quinderé verso@svm.com.br

É isso mesmo que você leu: a obsessão pela magreza ainda vai matar muita gente.

Mas vamos continuar fingindo que o que acontece mesmo é a “romantização da obesidade”, o problema real são as pessoas gordas buscando pelo seu direito de existir. Vamos continuar nessa ilusão de que não existem milhões de trends nas redes sociais (especialmente, no TikTok) que falam sobre induzir uma doença para parecer mais magra ou que fala que a “felicidade é magra”.

A sensação é de que eu tô revivendo a minha era tumblr, nos anos 2000 e alguma coisa, onde tudo o que eu via eram corpos extremamente magros e adoecidos. E a busca constante e sem precedentes pela magreza é tão naturalizada que, provavelmente, muitos de vocês leitores sequer associam essa “brincadeira” à uma apologia a transtornos alimentares. Mas é isso que ela é.

Quando eu vejo essa obsessão pela magreza repercutir tão levianamente pelos quatro cantos da internet, me vem imediatamente à cabeça uma frase que a top model Kate Moss disse em uma entrevista: “nada melhor do que se sentir magra”. Ela, que em 1990, no auge de sua carreira, pesava 45 kg com 1,70m de altura e se envolveu em várias polêmicas sobre abuso de drogas. É isso que é felicidade e saúde?

Enquanto isso, os dados que a Organização Mundial da Saúde (OMS) nos dá é que os transtornos alimentares acometem cerca de 5% da população mundial e esse número fica ainda mais alarmante quando falamos de crianças e adolescentes, chegando a quase 10%.

Vejam bem, essa é uma trend com uma mensagem oposta à saúde. Um corpo magro não é necessariamente saudável e, muito menos, feliz. Um corpo saudável é aquele que possui hábitos saudáveis, que tem acesso à comida de qualidade e, acima de tudo, seus direitos garantidos. Dizer que a felicidade é magra, comer de forma desproporcional para induzir um mal estar ou comemorar emagrecer após uma doença mais grave é um posicionamento político muito cruel.

A magreza não é o único caminho possível para a felicidade, mas a gente enquanto sociedade e comunidade precisa aceitar que todos os corpos são válidos e merecem existir com saúde e dignidade.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora