Pelos próximos 45 dias, a taxa básica de juros Selic será de 11,75% ao ano, conforme decidiu quarta-feira, 13, a unanimidade dos integrantes do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que a reduziu em meio ponto percentual. Foi a quarta queda dos juros brasileiros, mas, para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, ela poderia ter sido maior.
Ele tem razão, levando-se em conta que, entre a taxa Selic e a taxa real de juros que os bancos cobram de quem lhes toma dinheiro emprestado vai uma boa distância.
Uma empresa de médio porte que recorre à rede bancária em busca de recursos para ampliar seu negócio tem de encarar juros de até 20% ao ano. Grandes empresas da indústria com reconhecida liquidez conseguem obter financiamento a juros de 16% ao ano, desde que tenham bom histórico de adimplência.
Na opinião de Ricardo Alban, a inflação está sob controle, e com viés de baixa, razão pela qual o Copom do Banco Central foi conservador em excesso na decisão que adotou há dois dias. Por isto, ele entende que, nas suas próximas reuniões, os integrantes do Banco Central devem assumir uma posição mais vanguardista, isto é, fazendo cortes maiores na taxa de juros.
Ainda comentando a decisão do Copom, o presidente da CNI disse esperar que a redução da Selic ganhe a velocidade do frevo “para que ocorra uma redução mais significativa do custo financeiro suportado por empresas e consumidores”.
Ele explica que, mesmo com as reduções na Selic em agosto, setembro e novembro, “a taxa real de juros – que desconsidera os efeitos da inflação – está em 8% ao ano – ou seja, 3,5 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, que não estimula nem desestimula a atividade econômica”.
De acordo com Alban, “isso deixa claro o quão contracionista tem sido a política monetária brasileira e que o patamar da Selic ainda é excessivo para o quadro de inflação corrente, assim como para a perspectiva de inflação futura, prejudicando o mercado de crédito e a atividade econômica”.
Para encher de razão suas opiniões, Ricardo Alban argumenta que a inflação segue com comportamento favorável. Ele diz:
“O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi de 5,9% no acumulado em 12 meses até novembro de 2022, chegou a 4,7% no acumulado em 12 meses até novembro deste ano. Se não fossem as desonerações tributárias, o IPCA acumulado em 12 meses até novembro de 2022 teria sido de 9%, o que comprova uma desaceleração da inflação ainda mais acentuada.”
E acrescenta:
“Neste ano, os preços de Alimentos e Industriais são os que mais têm contribuído para o processo de desaceleração. Até os preços de Serviços – tipicamente mais resilientes, por serem muitas vezes indexados à inflação passada – têm caído: saíram de 8%, no acumulado em 12 meses até novembro de 2022, para 6,1% no mesmo período deste ano.”
É nesse cenário que a CNI chama atenção para a situação adversa do crédito. As concessões de crédito às empresas caíram 5,6% em termos reais no acumulado entre janeiro e outubro de 2023 em comparação com o mesmo período de 2022.
Na atividade econômica, os números também preocupam, ao apontarem desaquecimento. Após crescimento de 1,4% no primeiro trimestre de 2023, o PIB ficou estável (+0,1%) no terceiro trimestre de 2023, na comparação com os trimestres anteriores.