Falta pouca coisa para a carcinicultura nordestina voltar a exportar camarão para a Europa. Se e quando isto vier a acontecer, todo o mérito desse esforço deverá ser creditado ao empresário cearense Cristiano Maia, que, desbravando caminhos na Esplanada dos Ministérios em Brasília, obteve uma vitória.
Por sua sugestão e a pedido do governo brasileiro, o Reino Unido mandará ao Brasil, na segunda semana de setembro, um time de 12 especialistas do seu ministério da Agricultura. Objetivo desse time: visitar indústrias de beneficiamento de peixes marinhos e de água doce em Florianópolis e Natal e a unidade industrial da Fazenda Potiporã, maior produtora de camarão do Brasil, de Cristiano Maia, em Pendências, no litoral Oeste do vizinho estado potiguar.
Sábado passado, 17, falando em Limoeiro do Norte para centenas de carcinicultores dos municípios do Vale do Jaguaribe, que fizeram uma manifestação de protesto contra a importação de camarão do Equador e da Argentina, Cristiano Maia informou que os técnicos britânicos – por indicação do ministério da Agricultura brasileiro – passarão o dia 12 de setembro no Rio Grande do Norte, onde visitarão a Arimar, empresa que tem em Natal uma indústria de pesca e de beneficiamento de pescado, seguindo depois para a Fazenda Potiporã – de Cristiano Maia, a maior do Brasil, localizada em Pendência no Litoral Oeste potiguar – cuja unidade beneficiadora de camarão será inspecionada.
Do parecer dos ingleses – que tem tudo para ser favorável porque a Arimar e a Potiporã são empresas que operam na ponta tecnológica e suas atividades são obedientes aos princípios ESG de governança social, ambiental e corporativa – dependerá a decisão do governo britânico de autorizar, ou não, a importação do camarão e dos peixes brasileiros.
A Potipoã – uma das empresas do Grupo Samaria, comandado por Cristiano Maia – beneficia diariamente 50 toneladas de camarão, produzindo, mensalmente, 1.200 toneladas, que chegam a 1.500 toneladas com o acréscimo de 300 toneladas fornecidas pela segunda das três fazendas do grupo, localizada em Beberibe, no Leste cearense (a terceira localiza-se em Paraipaba, no Litoral Norte do Ceará).
A indústria de beneficiamento da Potiporã é abastecida de energia elétrica por uma usina de geração solar fotovoltaica de 2 MW de potência instalada implantada pela empresa na área da fazenda.
Na sua unidade do Rio Grande Norte, a Samaria dá emprego direto e estável a 1.260 colaboradores, sem contar os mais de 50 que trabalham em seu grande e moderno laboratório de análises e pesquisas, que está localizada no município de Touros, também na geografia potiguar.
Na sua fala aos carcinicultores reunidos sábado em Limoeiro do Norte, Cristiano Maia revelou que está ampliando suas três fazendas de criação de camarão no Rio Grande do Norte e no Ceará. Ele justificou, dizendo que não tem nenhuma dúvida do futuro promissor, e de curto prazo, da carcinicultura brasileira, que na realidade é nordestina e, particularmente, cearense, uma vez que o Ceará responde por 54% da produção brasileira, e o Rio Grande do Norte por 25%.
Também produzem camarão a Paraíba (7 mil toneladas/ano) e o Piauí (12 mil toneladas/ano), este no seu pequeno litoral, integrado pelos municípios de Ilha Grande, Parnaíba, Luís Correio e Cajueiro da Praia.
Maia fez outra revelação: o brasileiro consome, apenas, 700 gramas de camarão por ano, “um consumo muito baixo, que aumentará nos próximos anos, e 80% desse consumo se dão nos restaurantes, pois no Brasil não se tem ainda o hábito de guardar camarão na geladeira das residências”.
Se, como tudo indica, o Reino Unido autorizar a importação do camarão brasileiro, o governo do Brasil deverá apelar à União Europeia no sentido de que suspenda sua antiga restrição à compra do produto da carcinicultura brasileira, que é hoje taxado fortemente pelas autoridades alfandegárias europeias.
O Reino Unido não pertence à UE, e é por esta razão que unilateralmente trata com o governo brasileiro sobre a possibilidade de importar, novamente, o camarão produzido aqui.