Ao tomar posse do ministério da Economia, no dia 2 de janeiro de 2019, o economista Paulo Guedes prometeu trabalhar pela aprovação da reforma da Previdência, que daria ao orçamento da República, em 10 anos, uma economia de R$ 1,3 trilhão.
Os meses foram passando, as reformas tributária e administrativa, também prometidas, não saíram do papel e aquela montanha de dinheiro foi, pela pressão dos “lobbies”, reduzida a cerca de R$ 800 bilhões.
Guedes também prometeu uma política agressiva de privatizações que, pela venda de ativos estatais, incluindo milhares de imóveis (terrenos e edificações), resultaria numa coleta de outros R$ 1 trilhão.
O mercado respondeu positivamente – a bolsa B3 bateu recordes no fim de 2019.
No começo de 2020 esse céu de brigadeiro mantinha-se, a economia ia muito bem, subindo o aclive do crescimento, quando no meio do caminho surgiu a pedra da pandemia da Covid-19, e tudo desandou.
Toda aquela economia prevista no momento da aprovação da reforma previdenciária - que viria ao longo de uma década - teve de ser usada para socorrer estados, municípios, empresas, desempregados, desassistidos e, ainda, uma multidão do que o ministro Guedes chamou de “invisíveis”.
Para agravar o quadro, as relações do Executivo com o Legislativo deterioraram-se. O presidente Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, passaram a trocar insultos diariamente, e os sonhos reformistas e privatizantes de Paulo Guedes foram para escanteio. Maia, parecendo um lobo na pele de cordeiro, engavetou as propostas de reforma tributária e administrativa e travou outras propostas de interesse do governo e de sua equipe econômica.
Durante 2020, o Brasil viveu sob crises – a sanitária, que segue ceifando a vida de milhares de brasileiros; a econômica, que fechou empresas e extinguiu empregos; a social (temos hoje 14 milhões de desempregados, fora os invisíveis); e a política, na qual se incluíram as divergências públicas e quase diárias do Palácio do Planalto com ministros do Supremo Tribunal Federal.
Um sopro divino – como um Pentecoste – tirou Rodrigo Maia da cena. As duas casas do Congresso elegeram seus novos presidentes, que logo fumaram o cachimbo da paz com o Executivo, devolvendo a tranquilidade que faz com o ministro Paulo Guedes volte a sonhar com a realização de seus antigos planos.
Artur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, dão sinais e cumprem rituais no sentido de acelerar a tramitação das reformas tributária e administrativa.
Mas a aprovação de ambas será difícil. A tributária mexerá com o Pacto Federativo, que em algumas nações só foi resolvido por meio de guerras civis ou revoluções, e ninguém quer isto para o Brasil. São Paulo, que responde por 42% da produção nacional, não abrirá mão, sem contrapartidas, do que conquistou, nem Minas Gerais, nem o Rio de Janeiro, nem o Paraná, nem o Rio Grande do Sul.
A reforma administrativa será mais difícil ainda porque ferirá os interesses dos fortíssimos “lobbies” do serviço público federal que se apropriaram da estrutura de poder da União.
Mesmo que essa reforma mantenha os direitos e os absurdos adquiridos pelos servidores públicos ao longo dos últimos 70 anos (desde quando a capital federal se mudou para Brasília), as corporações lutarão com todas as suas armas para que os futuros servidores tenham esses mesmos direitos, como férias de 60 dias, supersalários, gratificações pornográficas, estabilidade etc etc etc
Já se ouviram, na Câmara dos Deputados, colhidas de deputados do Centrão, opiniões de que o atual modelo administrativo não cabe mais nos tempos de hoje. É um sinal alentador, mas, por enquanto, não é mais do que isso.
Quanto às privatizações, também há indícios positivos provenientes do mesmo Centrão, que é o consórcio de partidos que apoia a gestão de Bolsonaro. Esse conjunto de legendas parece disposto a respaldar os projetos de Paulo Guedes, em cuja relação estão, para começar, a Eletrobras e os Correios, que têm, igualmente, corporações poderosas com atuação no Parlamento.
Se a Câmara dos Deputados e o Senado Federal suportarem a pressão da oposição e da mídia, que batem forte – e sem parar – no governo e no presidente Bolsonaro, será possível aprovar as reformas tributária e administrativa e, ainda, os projetos-de-lei necessários à privatização daqueles duas estatais.
No meio dessa avenida de problemas, há, porém, a tragédia da pandemia da Covid-19, transformada, também, numa guerra de diárias batalhas nos “fronts” da política, da ciência, do judiciário e da comunicação, com direta consequência psicossocial – boa parte da população, obrigada a isolar-se em casa, já sofre de depressão, ansiedade, angústia e medo.
NO LUXO
Prosseguem na velocidade do frevo as obras de construção de um mais um edifício residencial de alto padrão de conforto e luxo – o São Carlos, que se ergue na esquina da Avenida Monsenhor Tabosa com a rua Rui Barbosa, a 30 metros da praia, bem ao lado do elegante Ideal Clube.
O prédio terá 35 andares com um apartamento por andar, com área de perto de 700 m².
Sua cobertura terá 1.250 m² de área, com direito a 15 automóveis na garagem.
Uma família cearense comprou seis apartamentos, e só esta notícia serviu para estimular as vendas das demais unidades, cujo preço médio é de R$ 12 milhões, segundo uma fonte do mercado imobiliário.
PANDEMIA
Manchete da capa do site do El País, maior jornal da Espanha e um dos maiores da Europa, na manhã deste sábado:
"Uma nova onda de coronavírus açoita com força a Europa".
Cuidemo-nos!