Partidos do Centrão mostram força e prestígio no Ceará

Espécie de federação de legendas que garantem a maioria do governo no Congresso, o Centrão e seus parlamentares indicam amigos e parentes para os cargos federais

Mostram força e prestígio os partidos do Centrão, espécie de federação de legendas que têm assegurado ao governo do presidente Lula a aprovação de projetos-de-lei e de Propostas de Emendas à Constituição (PECs) todos de interesse da equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e, também, do empresariado. 

O Centrão, em junho deste ano, reforçou (e põe reforço nisso) a estrutura organizacional da Companhia Docas do Ceará. 

Um deputado federal de grande prestígio em Brasília, com base política no sertão do Ceará, obteve a nomeação da esposa e de uma tia para posições de destaque na Diretoria Administrativa da empresa. 

Outro deputado federal, muito votado no litoral Leste do Estado, também conseguiu nomear não um familiar, mas um amigo, engenheiro, para um cargo de suma importância na diretoria da companhia, onde, aliás tem muito boa performance. 

Uma fonte da Companhia Docas do Ceará disse ontem à coluna que a empresa, que administra o Porto do Mucuripe, tem no seu quadro técnico “pessoas de grande capacidade, de alto conhecimento, especialistas na gestão portuária, que poderiam agregar-lhe valor, mas infelizmente não têm voto capaz de eleger um deputado”.

Mas não é somente na Companhia Docas do Ceará que o Centrão está empregando os indicados pelos seus deputados. Isto também acontece no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, o centenário Dnocs, que já foi, digamos assim, a grande universidade do semiárido, pela qual passaram expoentes da ciência como José Guimarães Duque, que descobriu o valor das árvores xerófilas (resistentes à seca) do Nordeste, e da engenharia, como Paulo de Brito Guerra, Antônio Monteiro de Morais, Joaquim Gondim e Anastácio Maia,  que construiu o Orós.

No Dnocs, que há mais de 10 anos respira por aparelhos na UTI da irresponsabilidade política, as diretorias foram, igualmente, repartidas entre os apadrinhados do Centrão, que, como sabemos todos, é liderado por Artur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, alagoano como o é seu desafeto senador Renan Calheiros. Saliente-se, contudo, que, assim como na Companhia Docas do Ceará, sobrou vaga para o PT também no Dnocs.

Na Superintendência do Ministério da Agricultura e Pecuária no Ceará, há indicados do Centrão, que podem ser encontrados, igualmente, nas representações locais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e na Agência Nacional de Mineração (ANM).

Bem, tudo isso faz parte do jogo da política. Mas, convenhamos, os políticos do Centrão poderiam indicar pessoas qualificadas para essas posições. Do jeito que as coisas são resolvidas, fica a impressão de que o deputado, ao buscar sua eleição ou reeleição junto ao povo, está mesmo voltado para o seu interesse pessoal e o de sua família, e não para o interesse público. Aliás, há famílias no Ceará que vivem exclusivamente do dinheiro público.

Não há, do ponto de vista de hoje, que é o mesmo de há 50 anos, a menor possibilidade de ser consertado este país tropical, rico e bonito por natureza. 

O Estado brasileiro é grande, custa caríssimo e por isto e não tem dinheiro para investir em educação, saúde, infraestrutura, saneamento e segurança pública, uma vez que mais de dois terços de sua receita tributária são destinados ao pagamento dos vencimentos dos servidores ativos, dos proventos dos aposentados e pensionistas da previdência pública e privada e do custeio da própria máquina (água, luz, telefone, aluguel de imóveis, gasolina, munição, alimentação etc.)

Esta coluna ouviu ontem de um antigo servidor da Companhia Docas do Ceará que há, na empresa, “e já faz tempo”, um clima de desânimo. Por um motivo simples: os que entendem de porto são afastados das posições de comando; os que não entendem chegam de fora, arrebanhados pelos partidos políticos, e isto cria “um clima desestimulante, dificultando a carreira dos técnicos, que veem ser privilegiados os que aportam lá não por mérito, mas por compadrio”.