Melhor notícia do ano: Ramal do Salgado avança com dinamite

Último trecho do Projeto S. Francisco de Integração de Bacias, essa obra reduzirá em 150 quilômetros a viagem das águas do Velho Chico até o açude Castanhão

Esta coluna divulgou na manhã de ontem, 16, a melhor notícia do ano para a economia cearense: as obras de construção do Canal do Salgado – derradeiro trecho do gigantesco Projeto São Francisco de Integração de Bacias – avançam em boa velocidade, superando até as dificuldades topográficas.

Na segunda-feira, 14, em solo do paraibano município de Cachoeira dos Índios, onde o ramal se inicia, uma carga de dinamite explodiu uma rocha, abrindo caminho para a construção do canal de cimento que transportará as águas do Velho Chico até o leito do Rio Salgado, que cruza a área urbana de Lavras da Mangabeira, na geografia cearense, pelo qual chegará ao rio Jaguaribe, alcançando, alguns quilômetros adiante, o espelho d’água do açude Castanhão.

Ideia de empresários da agropecuária do Ceará, logo apoiada pelo então governador Camilo Santana e pelo ministro potiguar Rogério Marinho, que na época ocupava o Ministério do Desenvolvimento Regional do governo do presidente Jair Bolsonaro, a argumentação técnica para a construção do Ramal do Salgado – perfeita do ponto de vista socioeconômico e mais anda do ponto de vista da viabilidade financeira – foi aprovada pelo Palácio do Planalto, que examinou, também, a repercussão política do empreendimento. Tudo aprovado!

Mas como tudo é demorado no serviço público brasileiro, passaram-se quase três anos até que se realizassem, no governo Lula, a licitação e a assinatura da Ordem de Serviço para a construção desse que é um empreendimento vital para a economia do Ceará urbano e rural.

O Ramal do Salgado não só encurtará em 150 quilômetros a viagem das águas do São Francisco até o Castanhão, como também assegurará o normal abastecimento da população de Fortaleza e das cidades de sua Região Metropolitana (RMF).

Há mais a celebrar: pelo Ramal do Salgado virão as águas que, igualmente, garantirão as atividades econômicas do Baixo Jaguaribe, onde se localizam – nos municípios de Russas, Limoeiro do Norte, Tabuleiro do Norte e Quixeré – quatro polos importantes: o da hortifruticultura, o da pecuária, o da sojicultura e o da cotonicultura. Ali há, ainda, outro polo importante, o cimenteiro, mas este depende muito pouco do fornecimento de água.

Iniciadas efetivamente, em 2007, as obras do Projeto São Francisco já consumiram R$ 12 bilhões. Até que esteja totalmente concluído, o empreendimento consumirá, ainda, mais de R$ 1 bilhão. No Ramal do Salgado, o Governo Federal investe R$ 434 milhões com a promessa de que ele estará pronto dentro de dois anos.

Promessa de político tem, obrigatoriamente, pela tradição, um desconto de 50% no tempo e de igual percentual no valor do que é prometido. Os arquivos da mídia e os anais do Parlamento estão à disposição de quem duvidar. Ponhamos de lado esses detalhes e foquemos no que interessa.

O Ramal do Salgado completará o elenco de objetivos do Projeto São Francisco, que privilegiará o Ceará, não porque o governo federal assim o quis, mas porque os cearenses – de direita, de centro e de esquerda – se uniram em torno desse sonho. Éramos, havia séculos, carentes de água. Não tínhamos um só rio perene.

Aí, nos anos 80 e 90 do século passado, a mente brilhante do engenheiro Hypérides Macedo, um especialista na matéria, imaginou e iniciou a execução dos projetos que tornaram o Ceará o estado com o melhor sistema de recursos hídricos do país. O Cinturão das Águas (CAC) e o Canal da Integração (que liga o Castanhão à RMF) foram projetados por Macedo, que – tornando-se depois secretário Nacional de Recursos Hídricos do Ministério da Integração Nacional à época em que Ciro Gomes era o ministro – também liderou o time que concebeu o Projeto S. Francisco.

Em resumo: o futuro da economia do Ceará é promissor diante da perspectiva de que, nos próximos dois anos, estará concluído e em operação o Ramal do Salgado. É, porém, necessário lembrar que esse orçamento de tempo poderá ser mudado pela tradição brasileira de atrasar as obras públicas – o melhor exemplo é a construção da Linha Leste do Metrofor, que há 10 anos caminha a passos do bicho preguiça.