No mercado financeiro e de capitais, a coisa está ruim, mas pode piorar.
Ontem, o dólar voltou a escalar e bateu na casa de R$ 5,70, mas fechando o dia cotado a R$ 5,66. A causa foi a repercussão das novas declarações do presidente Lula, que, falando a uma emissora de rádio da Bahia, disse que, neste momento, ele pode fazer nada porque o presidente do Banco Central é Roberto Campos Neto, que tem um mandato que terminará no dia 31 de dezembro deste ano.
Lula disse ainda que Campos Neto tem um viés político e que isto prejudica e interfere na gestão da política monetária, e com esse viés ele não poderia ser presidente do Banco Central. Lula disse que tem de esperar que Campos Neto termine seu mandato para poder indicar o seu substituto.
As declarações do presidente Lula foram interpretadas pelo mercado como uma tentativa de interferência no Banco Central, o que poderá tornar-se realidade a partir do próximo ano, quando Roberto Campos Neto não for mais o presidente da instituição. O nome mais cotado para a sucessão de Campos é o do atual diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Hoje, quarta-feira, 3, Lula terá reunião no Palácio do Planalto com vários ministros que ele convocou para decidir o que deve ser feito para conter a escalada do dólar.
O governo pode dar uma boa ajuda. Primeiro, o próprio presidente da República tem de deixar de criticar o Banco Central e seu presidente, que fazem o que manda o regulamento, ou seja, trabalham para que a inflação não suba, e para isto mantém uma política de juros adequada às circunstâncias atuais.
E essas circunstâncias indicam que a política fiscal, isto é, a política de gastos do governo, é uma das causas do problema: o governo gasta mais do que arrecada, fazendo subir a dívida pública e, também, consequentemente, as despesas com o pagamento de juros aos credores dessa dívida. A outra causa, também importante, são os juros altos que estão pagando os títulos do Tesouro dos EUA, para os quais migram os recursos que estavam nas bolsas de valores dos países emergentes, como o Brasil.
O presidente do Banco Central rebateu ontem o que vem dizendo o presidente Lula. Roberto Campos Neto afirmou o seguinte: “Temos de separar a narrativa política e o trabalho técnico que devemos fazer. A história vai mostrar que o trabalho foi feito da melhor maneira com os dados que tínhamos à mão, da maneira mais técnica.”
Ele falou em Lisboa no fórum de presidentes de Bancos Centrais promovido pelo Banco Central Europeu. Nesse mesmo fórum, Campos Neto lembrou que a última decisão do Comitê de Política Monetária, o Copom, que reduziu a taxa de juros Selic em apenas 0,25 ponto percentual, foi tomada por unanimidade, isto é, votaram a favor dela os quatro diretores indicados pelo presidente Lula, o que demonstra que a Autoridade Monetária age por critérios eminentemente técnicos.
Na reunião de hoje com um grupo de seus ministros, o presidente Lula poderá aceitar, ou não, a sugestão de aliados para que nomeie logo o futuro presidente do Banco Central. Isto poderá acalmar o mercado, mesmo que o nomeado só tome posse no primeiro dia útil de 2025. Se o nomeado for mesmo Gabriel Galípolo, o mercado deverá aquietar-se, pois é um nome já conhecido e cujas posições, como diretor do Banco Central, têm sido técnicas.
Hoje, como se observa, será mais um dia de emoções para quem lida com a economia brasileira.