Como previram esta coluna, 100% dos economistas e a torcida do Flamengo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio veio com inflação de 0,46%, bem acima do 0,38 ponto percentual que o mercado esperava. Por quê?
Porque desta vez os pesquisadores do IBGE capturaram os primeiros efeitos da catástrofe ambiental, social, econômica e financeira que se abate, há mais de um mês, sobre o Rio Grande do Sul, cujos setores produtivos – o turismo e a vinicultura incluídos – foram destroçados. Recuperá-los levará tempo, muito tempo, e consumirá dinheiro, muito dinheiro público, acima dos R$ 60 bilhões estimados pelo governo gaúcho.
Anualizada, isto é, de maio de 2023 a maio de 2024, a inflação medida pelo IPCA do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) bateu nos 3,93%, com viés de alta, uma vez que o dólar disparou e já encareceu as importações de trigo do pão nosso de cada dia e dos princípios ativos dos medicamentos fabricados pela indústria farmacêutica.
Outra vez, esta coluna e mais os 100% dos economistas e a totalidade da torcida flamenguista estimam, pelo andar da carruagem, que a inflação ainda subirá no decorrer deste ano por culpa da tragédia no Sul, da alta da moeda norte-americana e do setor de serviços (restaurantes, bares, cabeleireiros, advogados, arquitetos, contadores, casas de shows etc) onde os preços não param de subir (um cabeleireiro da Aldeota, dono de um salão de beleza para damas e cavalheiros, subiu de R$ 70 para R$ 80 o corte de cabelo masculino; uma podóloga no mesmo bairro ampliou de R$ 80 para R$ 90 o seu serviço profissional de tratar da calosidade do pés e do alinhamento das unhas de seus clientes homens e mulheres).
Empresários que produzem e dão emprego na indústria, no agro e na área dos serviços preocupam-se com o futuro próximo da economia brasileira, sustentando seu olhar e sua atenção na política fiscal do governo, na precária e muito cara relação entre os poderes da República, no déficit das contas públicas e na relação dívida-PIB, que tem crescido nos últimos 15 meses, ampliando a necessidade de financiamento, o que resulta no incremento da conta de juros.
Apesar de alguns calotes dados nos seus credores antes do Plano Real, o Brasil é visto hoje como um bom pagador, apesar das crescentes desconfianças do mercado, causadas pela gastança sem fim do atual governo.
Os economistas dos grandes bancos e das instituições que operam no mercado de capitais – observando o recado embutido no IPCA de maio – já admitem que o Comitê de Política Monetária, o Copom, do Banco Central, deverá fazer, na quarta-feira da próxima semana, o derradeiro corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros Selic, que descerá para 10,25% ao ano. Há, todavia, os que apostam na manutenção da atual taxa de 10,50%.
Depois disso – é a previsão – a tendência do Copom será de manter a Selic nesse patamar por um longo tempo até que todo o cenário político e econômico do país esteja mais claro e definido, algo que não está à vista hoje. Ou seja, os juros básicos continuarão altos, pelo menos até 31 de dezembro deste ano, quando terminará o mandato do presidente do Banco Central, economista Roberto Campos Neto, e dos outros diretores que lhe dão apoio e lhe garantem a maioria dos votos nas decisões do colegiado.
Caminhando junto com a economia, segue a produção da política e dos políticos, uma parceria que, com todo o respeito a quem pensa diferente, tem feito mal ao país.
Sem maioria no Congresso Nacional, onde a cada votação importante é obrigado a abrir o Tesouro para atender à chantagem de parlamentares, o governo petista – cujo DNA é populista tal e qual o do argentino Javier Milei, embora sejam ideologicamente diferentes – tem de ceder à pressão do Centrão, ora com troca de cargos, ora com a liberação de emendas parlamentares, uma excrescência que já deveria ter sido abolida da vida burocrática nacional, mas que permanece viva pela necessidade de sobrevivência de quem está no poder e de quem, em contrapartida, troca benesses por voto.
O cenário da economia aqui e no resto do mundo está carregado de nuvens que se tornam mais escuras à medida que a geopolítica retoma a guerra fria, que esquenta na Europa, onde a direita segue avançando e onde o conflito Rússia x Ucrânia não tem paz à vista; no Oriente Médio, onde israelenses e palestinos continuam se matando há 5 mil anos; e na Ásia, onde o duelo das duas Coreias e a ameaça da china de invadir Taiwan deixa insones o Japão e os Estados Unidos.