Não é fácil investir no Brasil; é difícil investir na região Nordeste; mas é um ato de coragem e bravura investir no agro do Ceará. Por quê? – é a pergunta que se levanta. São várias as respostas, algumas das quais estão embutidas nas informações a seguir:
No Litoral Norte cearense, onde a pluviometria é excepcional, superando a média anual de 1 mil milímetros, uma empresa agropecuária enfrenta sério problema.
“Quero cumprir o que manda a Lei e não consigo. Desejo assinar a Carteira Profissional de quem pretende trabalhar comigo, ou seja, quero formalizar o seu emprego, mas meu esforço tem sido em vão por motivo único e simples: as interessadas (a oferta de emprego é para mulheres) rejeitam essa formalização, alegando que, se o fizerem, perderão sua Bolsa Família mensal de R$ 600. Pelo visto, ninguém quer mais trabalhar na lavoura. O Bolsa Família é uma boa política de distribuição de renda, mas essa política tem de encontrar uma porta de saída, pois do contrário a agricultura e a pecuária deixarão de produzir por falta de mão de obra causada pelo vício da ociosidade remunerada” – como diz à coluna uma empresária do agro.
Outra informação que reforça o argumento de que produzir no agro cearense é um dos trabalhos de Hércules é esta:
Na Chapada do Apodi, uma fazenda moderna, cujo dono investiu em alta tecnologia para cultivar soja e algodão, põe em dúvida a qualidade do serviço de distribuição de energia elétrica da Enel, empresa controlada por capitais italianos, detentora da concessão de distribuição em todo o Estado do Ceará.
“Tenho vários pivôs centrais, para cuja operação é necessária energia estável e de boa qualidade, algo que a Enel não consegue oferecer. Tenho tido constantes problemas de interrupção do fornecimento de energia ou de queda de voltagem, de que resultam danos às nossas máquinas e equipamentos. Já nem reclamo mais à Enel, porque as empresas que lhe prestam serviço na Chapada têm, também, baixa qualidade. Resultado: prejuízo, porque a meta de cultivar em 3 mil hectares já foi reduzida à metade”, diz o empresário, que acrescenta:
“Como poderão vir para cá grandes produtores de outros estados se aqui o serviço público é precário – é só ver o estado em que se encontram as rodovias que cortam toda a zona de produção da Chapada do Apodi – e o das concessionárias desse serviço é ainda mais instável?”
Há mais. Em maio de 2023, um incêndio destruiu, parcialmente, o Galpão 5 da Ceasa de Maracanaú, um gigante shopping center público da horfruticultura que se localiza à margem do IV Anel Viário, bem na esquina com a CE-060 (Fortaleza-Redenção). O sinistro destruiu 35 boxes.
“Mais de um ano já se passou e o Galpão 5 da Ceasa segue do mesmo jeito, sem reforma”, revela um fruticultor com o mesmo sentimento de decepção que têm os demais produtores que comercializam, na Ceasa de Maracanaú, o que plantam e colhem em suas fazendas.
A mesma fonte faz uma importante revelação: “Os grandes supermercados de Fortaleza deixaram de abastecer-se de frutas, legumes e verduras na Ceasa de Maracanaú. Um dos motivos é a precariedade de suas instalações e a visível falta de cuidado com a higiene. Os que duvidam devem visitar a Ceasa em qualquer dia útil. Os supermercados construíram seus próprios Centros de Distribuição e negociam diretamente com os hortifruticultores.”
Vamos por partes. A Enel, pela voz do seu presidente José Nunes, explicou que sua empresa está realizando, desde ontem, 15, ação em Tabuleiro do Norte, na Chapada do Apodi, para manutenção de bancos reguladores de tensão, “o que deverá normalizar os níveis de tensão aos consumidores locais.”
Também informou que a Enel “tem trabalhado na Chapada do Apodi, realizando manutenções com foco na melhoria da qualidade do fornecimento de energia elétrica para os consumidores da região”. E assegura que, “entre as ações da Enel na região, está a realização de podas e inspeções”.
Além disso, adianta José Nunes, “está instalando comunicação via satélite integrada com seu Centro de Operações e com suas equipes em campo, o que permitirá mais agilidade na localização do problema, reduzindo o tempo de atendimento para normalização do fornecimento de energia, quando houver interrupções”.
A coluna tentou contato com a direção da Ceasa, mas foram frustradas todas as tentativas nesse sentido.