Hidrogênio Verde: Silêncio ensurdecedor faz parte da estratégia

Alta executiva da australiana Fortescue define as linhas e as áreas dos cursos técnicos que o Sesi e o Senai do Ceará ministrarão ao pessoal que trabalhará na empresa na produção do H2V no Pecém

Podem estar silenciosos os australianos da gigante Fortescue, que, como esta coluna já informou, está pronta para iniciar os trabalhos de implantação de sua unidade industrial de produção do Hidrogênio Verde no Pecém, aguardando, apenas que o caro e lento Parlamento brasileiro aprove um dos projetos de lei que regulam a atividade de produção do H2V. 

Atentem para a notícia que esta coluna divulgou ao meio-dia de ontem, com exclusividade: Danielle Maxwell, alta executiva mundial da Fortescue para a Área de Conteúdo Local, passou a sexta-feira, 19, reunida com Paulo André Holanda, diretor-regional, e técnicos do Senai-Ceará, estabelecendo linhas de entendimento para os cursos de treinamento e qualificação do pessoal que trabalhará para a empresa australiana na produção do Hidrogênio Verde.
 
Maxwell também desenhou com dirigentes da Federação das Indústrias (Fiec) um modelo de relação que a Fortescue deverá ter com empresas locais que se tornarão seus fornecedores de produtos e serviços – e aqui está uma área do mais alto interesse para as indústrias do Ceará.

“Os australianos estão calados, mas trabalhando, como nós”, disse ao fim do dia de ontem – com um forte tom de ironia – uma fonte graduada da Fiec, que se referiu ao comentário de ontem desta coluna, segundo o qual “há um silêncio ensurdecedor” em torno do projeto de implantação do Hub do Hidrogênio Verde no Pecém, e a culpa é do que aqui se chamou de “pacto tripartite” – envolvendo o governo do Ceará e seus parceiros Fiec e UFC no projeto do Hub do Hidrogênio Verde no Pecém. 

“Trabalhando como nós!” significa dizer que a cúpula da Fiec que cuida do tema – seu presidente Ricardo Cavalcante e seu primeiro vice-presidente Carlos Prado – está cumprindo o seu papel no plano estratégico que o governo do Ceará e o outro parceiro, a Universidade Federal do Ceará (UFC), executam neste atual estágio do projeto do H2V do Pecém. 

“Neste instante, é preciso manter o silêncio, mesmo porque tudo é estratégico. Há uma corrida mundial pelo H2V e, certamente, vencerá essa maratona quem dispuser de bons investidores e dos bons locais para o desenvolvimento das energias renováveis que tornarão verde o hidrogênio a ser produzido, e neste caso o Ceará leva vantagem por dispor de bancos constantes de vento e de alta insolação”, como comentou um dirigente da Fiec.

Encantada com o que viu, pessoalmente, ontem durante sua longa visita ao parque técnico do Sesi-Senai na Barra do Ceará e em Maracanaú, Danielle Maxwell dissipou todas as dúvidas a respeito da disposição da empresa de investir na produção do H2V no Ceará. 

Ela mesma, ao lado do diretor-regional do Senai e, também, superintendente do Sesi no Ceará, Paulo André Holanda, apontou os cursos que sua empresa deseja que sejam ministrados ao pessoal que trabalhará na produção do Hidrogênio Verde em sua unidade industrial do Pecém. E ainda transmitiu instruções a respeito das sete áreas que esses cursos deverão abordar: energias renováveis, construção civil, indústria química, logística, gestão, PDI (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação e Tecnologia da Informação) e segurança do trabalho.

“É coisa de quem, altamente profissional, está determinado a implementar um projeto corporativo que envolve interesses de um estado e de um país, no caso brasileiro”, comentou um famoso consultor empresarial cearense. 

Na opinião desse consultor, “o Ceará tem todas as chances de partir na frente dessa vertente da transição energética, para o que conta com extraordinárias vantagens comparativas, a começar pelas bençãos da natureza que lhe deu sol e vento o tempo inteiro, aém de uma privilegiada localização geográfica”. 

Fica, então, combinado que o silêncio tripartite – do governo do Estado e de seus parceiros Fiec e UFC – sobre os projetos de produção do Hidrogênio Verde é estratégico e perdurará pelo tempo que se fizer necessário. Esta, pelo menos, é a opinião que se colhe nos corredores da Federação das Indústrias do Ceará.