Atenção! Waldemar Gehring Júnior, doutor em engenharia mecânica pela Unesp e engenheiro mecânico pela Universidade de São Paulo (USP), leu nesta coluna várias matérias sobre o Hidrogênio Verde, a última das quais, publicada nesta semana, tratou da missão empresarial e governamental do estado alemão da Renância do Norte-Westfália, que chegará a Fortaleza na próxima segunda-feira, 6/11, para reuniões na Fiec e visita ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém com o objetivo de conhecer o potencial do Ceará para a produção do Hidrogênio Verde e a geração de energias renováveis.
Consultor de empresas e ex-professor da Unesp e da UFSCar, estudioso da área de sustentabilidade e tendo na engenharia da madeira (reflorestamento) sua base de trabalho, desde a automação dos processos de usinagem e secagem até o beneficiamento e a construção civil, atuando ainda em projetos de sustentabilidade com parcerias no exterior, Gehring Jr transmitiu à coluna comentários que têm tudo a ver com o projeto do governo do Ceará, da Fiec e da UFC de implantar no Complexo do Pecém um Hub do Hidrogênio Verde.
Ele levanta dúvidas sobre se será sustentável produzir H2V com “consumo absurdo de água proporcional ao tamanho da planta”.
Pela importância de quem fala e pela relevância do tema, esta coluna publica, a seguir, a íntegra da mensagem que, por e-mail, enviou o Dr. Waldemar Gehring Júnior:
“Li com atenção sua matéria sobre hidrogênio verde e a missão alemã. Tenho tido interesse pelo assunto e, como o senhor também tem esse interesse, resolvi escrever-lhe este e-mail.
“O Hidrogênio Verde é obtido pela dissociação da molécula de água em moléculas de hidrogênio e oxigênio, e, após isso, pressurizado a altíssimas pressões para ser transportado.
“Assim a matéria prima desse processo consiste em água desmineralizada e energia elétrica, além de energia para a pressurização.
“Ok com relação à energia necessária para esse processo, desde que obtida de fontes solares ou eólicas. Embora seja fator importante o custo de obtenção.
“E a água?
“Pelo cálculo estequiométrico (estequiometria é a área que realiza os cálculos das quantidades de reagentes e/ou produtos das reações químicas, com base em leis e com a ajuda de equações químicas – anotação da coluna extraída do Google), podemos afirmar que algo em torno de 11% da entrada de água em massa se converte em hidrogênio.
“Para isso temos um consumo absurdo de água proporcional ao tamanho da planta.
“Se a fonte for água doce, estaremos na verdade eliminando uma fonte não renovável de recursos e de vida para ser uma parcela reconvertida em outro lugar na forma de água ou vapor d’água. Se for água salgada, a dessalinização irá gerar uma potencialização da salinidade local, sendo assim fonte poluidora devido à hipertonicidade do meio.
“Temos aqui pontos importantes para questionarmos se mesmo o consumo local do Hidrogênio Verde é realmente amigo do meio ambiente, pois, na menor questão direta, eliminaremos água do ambiente local.
“Lembramos que sustentável é o que norteia os pilares ambiental, social e econômico.
“Agora vem a exportação: os navios são movidos a diesel. Mandar energia com diesel será sustentável?
“Assim, acredito que um debate interessante se faz necessário pois em termos de pegada de carbono esse combustível verde ao chegar de navio na Europa já não será tão verde. Na verdade, transferiremos água de nosso meio social para outro lugar, além da energia entrópica” (que causa desordem num sistema termodinâmico).
“Aguardo comentários e espero ter ajudado para um debate mais profícuo e robusto a respeito do modismo atual da energia verde, e que saibamos que estamos na rota certa.
“Minha opinião sincera: enquanto fonte de energia, são o etanol e o desenvolvimento de carros com motores projetados à máxima eficiência o melhor dos cenários.
“A guerra na Ucrânia e a falta do gás realmente estão influindo na busca de fontes de energias ao redor do globo, porém, temos que ter ciência e bom senso para algumas tomadas de decisão e seus impactos no futuro em nosso bioma.”