“Estamos com saudades de março”, disseram ontem empresários da indústria e da agropecuária do Ceará depois de ouvirem durante 50 minutos uma exposição, ilustrada com gráficos, do presidente da Funceme, engenheiro Eduardo Sávio Martins, que ainda ampliou o entusiasmo do auditório ao dizer:
“Passaram-se apenas três dias de abril e a pluviometria já chegou à marca dos 29 milímetros, que é bem otimista se levarmos em conta que a média histórica deste mês é de 188 milímetros de chuvas”.
Na sua fala aos empresários, Sávio Martins revelou que, no recente mês de março, na maioria das regiões cearenses, “a pluviometria ficou acima da média histórica”.
A Funceme acertou nas suas previsões, lembrou o empresário Jorge Parente, provocando aplausos dos presentes ao seu presidente, que prosseguiu despejando boas notícias.
Eduardo Martins disse que, ontem, estavam vertendo (ou sagrando, como dizem a mídia e os sertanejos do Ceará) 51 açudes de médio porte.
O que está a surpreender é a recarga dos grandes açudes: o Castanhão, maior deles, deve alcançar, até o fim desta semana, o volume de 2 bilhões de metros cúbicos (sua capacidade é de 6,5 bilhões de m³);
O Orós, segundo maior reservatório, já acumula um pouco mais de 1 bilhão de m³, ou seja, quase a metade de sua capacidade total de 2,1 bilhão de m³ de água.
Mas há situações que preocupam. Por exemplo: os açudes Aracoiaba e Pacajus, que integram o sistema que abastece de água a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), estão vertendo.
As águas do Aracoiaba chegam até o Pacajus, que, também vertendo, manda para o mar todo o manancial excedente. Ora, isso é um desperdício!
A poucos quilômetros do Pacajus está o Pacoti, que acumula hoje quase dois terços de sua capacidade total, mas com pouca chance de verter. Aí surge a pergunta: por que a Cogerh, que gerencia os recursos hídricos do Ceará, não bombeia água do Pacajus para dentro do Pacoti, tirando proveito do canal que liga os dois açudes, e do conjunto de motobombas instalado e inoperante?
Deve haver um motivo – ainda não revelado – que impede esse bombeamento, pois do contrário não se admitiria tamanha falha do organismo que cuida, também, da gestão das águas da RMF.
A Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) está ciente do problema, e seus técnicos já estudam a possibilidade de fazer o bombeamento.
Pelos prognósticos da Funceme, abril será um mês também bom de chuvas, mas com intensidade menor do que a do mês de março.
“Fazia muito tempo que o Sertão Central não registrava tanta chuva quanto as que se registraram nos últimos 20 dias. Foi tanta chuva que em Milhã a principal barragem rompeu, inundando parte da sede municipal e da zona rural, atingindo também Quixeramobim, que sofreu, igualmente, as danosas consequências. No Sertão Central, em março, a pluviometria ficou acima da média”, disse o presidente da Funceme.
Mas Eduardo Sávio Martins voltou a alertar para a possibilidade de ocorrência do fenômeno El Niño, que, segundo as fotos e as análises das imagens dos satélites, deverá dar seus primeiros sinais no início do segundo semestre. Trata-se de um fenômeno natural que provoca chuvas fortes no Sul do Brasil e na Argentina e severa estiagem no Nordeste brasileiro.
De acordo com os institutos que monitoram o clima, entre eles a própria Funceme, é grande a chance de acontecer um novo El Niño a partir do segundo semestre deste 2023. Enquanto ele não chega, os agricultores e pecuaristas mantêm o sorriso de alegria, porque colherão boas safras de milho, feijão, algodão, sorgo, palma e capim.
A safra 2023/2024 do melão – principal fruta da pauta de exportação do Ceará – começará a ser plantada no próximo mês de maio e colhida e exportada em agosto. Ao contrário de outras frutas, o melão não gosta de chuva, mas adora o sol e a irrigação por gotejamento.
Detalhe social: cada hectare plantado de melão corresponde a um emprego. A Agrícola Famosa, com fazenda de produção em Icapuí, no Leste do Ceará, cultiva melão em 8 mil hectares. Isto quer dizer que ela gera 8 mil empregos.