Fruticultor alerta: Pode faltar água para o Agro no Jaguaribe

Empresário Edson Brok, que produz banana no Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi, pede ao Governo do Ceará que pressione Brasília pelas águas do S. Francisco

Berlim (Alemanha) – Expressando a posição das lideranças da agropecuária do Ceará, o empresário Edson Brok, sócio e presidente executivo da Nordeste Vegetais – maior exportador brasileiro de banana nanica (Cavendish) para a Europa, com fazenda de produção na área do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi (Dirja), em Quixeré – deixou preocupado uma das estrelas do Governo do Ceará, o secretário do Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho. Brok e Salmito estão em Berlim participando da Fruit Logistica.

Com outras palavras, Edson Brok – que também atua na área da logística de transporte – disse o seguinte, em visível tom de lamento:

“Secretário Salmito, estamos todos, no Apodi, produzindo sob a ameaça de faltar água do rio Jaguaribe (liberada pela válvula dispersora do açude Castanhão) para a continuidade de nossa atividade. O volume de água que nos era fornecido já foi reduzido. Sabemos que o El Niño vai nos causar uma estiagem severa neste primeiro semestre, com chance de prolongar-se pelo resto do ano. Temos ciência de que se trata de um fenômeno causado pela natureza, mas temos um equipamento construído pela mão humana, o Projeto São Francisco de Integração de Bacias, cujo bombeamento, pelo que sei, está suspenso. Mas ele já deveria estar bombeando água para o Castanhão”.

Brok explicou que, por razões técnicas, a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) desaconselha o bombeamento nesta época de estio. Como está muito seco o leito dos rios que estão no caminho das águas do São Francisco, bombear água para o Castanhão agora será, segundo a SRH, um desperdício, porque a maior parte dessa água se perderá pela infiltração e pela evaporação.

Os técnicos da SRH aconselham que o bombeamento só deverá ser feito nas épocas de chuva, porque aí não há desperdício; pelo contrário, com os rios correndo a água do São Francisco viajará mais rapidamente, sem perdas, até chegar ao seu destino no Ceará – o Castanhão.  

Salmito Filho, ajudado pelo presidente do Complexo do Pecém, Hugo Figueiredo, explicou a Edson Brok que o abastecimento de água para o consumo humano da população de Fortaleza e dos municípios de sua Região Metropolitana está garantido ao longo deste ano porque o seu sistema de açudes – Pacajus, Pacoti, Riachão, Gavião, Acarape do Meio e Aracoiaba – represa o suficiente para atravessar a temporada de estiagem.

Hugo Figueiredo foi além, dizendo que a Cagece fornecerá ao Complexo do Pecém até 3 m³ por segundo de água de reuso de sua Estação de Tratamento de Esgoto da Avenida Leste-Oeste, mas admitiu que isso só se dará daqui a dois anos, no mínimo. Com essa oferta e mais com o acréscimo de 1 m³ por segundo que virá da futura Usina de Dessalinização da Praia do Futuro, não será necessário levar água do Castanhão para a RMF, com o que o abastecimento de água para as atividades econômicas industriais e agroindustriais no Baixo Jaguaribe estará garantido.

“Mas essa garantia só virá daqui a dois-três anos”, lembrou Edson Brok, com o assentimento de Salmito Filho e Hugo Figueiredo. Brok argumentou, também usando outras palavras:

“Então, o aconselhável, o mais viável neste momento é o governo do Ceará pressionar o Ministério do Desenvolvimento Regional no sentido de retomar o bombeamento das águas do São Francisco para o Castanhão. Perderemos água ao longo da viagem, mas em 40-50 dias, essas águas chegarão ao maior açude do Ceará para garantir a produção agrícola e pecuária do seu principal polo produtor, que hoje oferece emprego direto a uma multidão de mais de 20 mil pessoas”.

Consultado por esta coluna sobre o que havia dito o empresário Edson Brok, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, transmitiu mensagem a esta coluna, adiantando que sua entidade, em articulação com os sindicatos rurais filiados e com os empresários do setor, está elaborando um plano de ação para o enfrentamento da estiagem que já chegou como consequência do El Niño.

O presidente da Faec concordou com as opiniões de Edson Brok e disse que, diante do agravamento do quadro, com real ameaça de faltar água para as atividades econômicas no Baixo Jaguaribe (ou seja, em toda a área à jusante dos açudes Orós e Castanhão), a retomada do bombeamento das águas do rio São Francisco para o Ceará “é uma providência indispensável e urgente”.

Amílcar Silveira repetiu Edson Brok e disse que haverá perdas por infiltração e evaporação nos 45 ou 60 dias de duração da viagem das águas desde Jati até o Castanhão, mas daí em diante a oferta de água do São Francisco estará normalizada, com o que o abastecimento humano, a dessedentação animal e a oferta de água para a agricultura estarão garantidos por todo o resto do ano.

Para que essa providência seja adotada, o presidente da Faec também concorda com a sugestão de Edson Brok de o governo do Ceará exercer pressão sobre o ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional para que seja retomado, o mais rapidamente possível, o bombeamento das águas do São Francisco para o Ceará.