Uma dona de casa entrou em contato com esta coluna para reclamar do preço do feijão verde, que, ontem, estava sendo negociado em feiras de bairro e em supermercados de Fortaleza por até R$ 32 o quilo.
“Isto é um absurdo”, disse ela quase aos gritos, como se estivesse falando com algum agente do serviço de fiscalização do Ministério da Agricultura ou do Procon. Com voz de quem tem idade madura – isto é, parecendo ser uma pessoa sexagenária – a dona de casa explicou que, havia dois meses, o preço do mesmo feijão verde, comprado por ela na mesma feirinha do seu bairro – a Parquelândia – custava entre R$ 10 e R$ 12.
“Por que esse aumento tão grande?”, foi a pergunta que ela fez à coluna, que buscou resposta na fonte primária.
Rita Granjeiro, sócia e diretora da Fazenda Granjeiro, maior produtora de feijão verde do Ceará, conhecida por sua simpatia, educação e profundo conhecimento sobre a produção e a comercialização desse apetitoso cereal, pormenorizou a resposta, dando a ela uma amplitude que esta coluna desconhecia.
Ela começou lembrando que, tradicionalmente, aqui no Ceará, no Dia de Santa Luzia, celebrado anualmente no dia 13 de dezembro, costuma chover. Quando isto acontece, os pequenos produtores de feijão plantam as primeiras sementes, que, 60 dias depois, se transformam em safra a ser colhida.
“Mas no dia 13 de dezembro de 2023, não choveu, e ninguém plantou, e aí está o resultado. Está faltando feijão verde”, explicou Rita Granjeiro.
Do alto de sua experiência – a Fazenda Granjeiro, na zona rural do município de Paraipaba, produz, em épocas de pluviometria normal, uma tonelada e meia de feijão verde por semana – ela conta que, diante do anúncio de mais uma seca no Ceará, reiterado pelos institutos mundiais que monitoram o clima, o quadro tende a ficar pior. Ou seja, quem adora comer feijão verde, ou diariamente ou uma vez por semana, terá de buscar uma alternativa para atender seu gosto alimentar. Ela detalha:
“Acontece o seguinte: o feijão verde é cultivado nos baixios das pequenas fazendas do sertão e do litoral do Ceará. Os baixios são áreas úmidas existentes nas beiradas dos pequenos açudes. No segundo semestre, quando a umidade desaparece por causa do alto índice de insolação, a produção de feijão verde reduz-se, só reaparecendo quando retornam as chuvas”.
Rita Granjeiro olha para o céu sem nuvens de Paraibapa e, com base no que diz a ciência, sentencia:
“Pelos próximos três meses, não haverá chuva. Sem chuva, os açudes não enchem e as terras do seu entorno permanecem sem umidade, inviabilizando qualquer tentativa de cultivo do feijão. É este o panorama de hoje e o previsto para todo este primeiro trimestre.”
Para agravar o cenário, houve em 2023 a ação deletéria de uma praga que reduziu bastante a produção de feijão verde no Ceará. A própria Fazenda Granjeiro, localizada em uma zona geográfica do Litoral beneficiada por boas chuvas, sofreu um grande prejuízo: por causa de uma praga que invadiu sua área plantada, a produção reduziu-se a 50%.
Consequência: aconteceu aqui o mesmo que acontece em qualquer país do mundo – se cai a oferta do produto, seu preço aumenta. E aumentou mesmo.
No caso do feijão cearense, a Lei da oferta e procura ainda recebe o castigo do atravessador, aquela nefasta figura que, atendendo, com dinheiro vivo, às necessidades do pequeno produtor, impõe a ele um preço vil pelo seu produto e outro preço, exorbitante, de quem o negocia na Ceasa.
Eis, em resumo, a causa e o efeito da falta de chuvas sobre a produção do feijão verde cearense.
Rita Granjeiro soube em outubro passado que, neste primeiro trimestre de 2004, o Ceará e o Nordeste todo sofreriam a consequência do El Niño, causa das grandes enchentes no Sul e Sudeste do Brasil e na Argentina e de seca severa no Norte e no Nordeste brasileiros. Mesmo usando a irrigação por gotejamento para produzir feijão verde na sua fazenda, a praga do ano passado ainda continua restringindo sua produção.
“Conclusão: só quando as chuvas voltarem teremos de novo uma boa produção de feijão verde, com preços antigos”, antevê Rita Granjeiro, uma das líderes do agro cearense.