Criadores de camarão do Ceará já têm sua cooperativa

Os 33 associados da entidade produzem, hoje, 270 toneladas por mês, parte das quais comercializada para supermercados de bairros de São Paulo e Belo Horizonte

Tem avançado tanto a carcinicultura no Ceará que não surpreendem mais as novas e boas notícias que chegam do setor.

Aqui está uma dessas notícias: foi criada e opera com sucesso a Cooperativa dos Produtores de Camarão do Ceará (Copacam), que tem sede em Fortaleza, mas com 100% dos seus associados residindo e produzindo em municípios do interior e do litoral do estado. 

Presidida pelo carcinicultor Luiz Paulo Henriques, que cria camarão em cativeiro na geografia de Cascavel, no Litoral Leste cearense, a Copacam já vende o produto dos seus 33 associados para redes de pequenos supermercados de São Paulo e Belo Horizonte.

“Estamos indo bem, dando um passo de cada vez, sem querer abarcar o mundo, mas buscando novos mercados, ao mesmo tempo em que trabalhamos para manter a qualidade dos nossos produtos”, como explica à coluna o também carcinicultor João Ricardo Tavares, que integra o Conselho de Administração da cooperativa.

Por enquanto, “mas só por enquanto”, como diz Tavares, o time de associados da Copacam só tem capacidade para produzir 270 toneladas por mês, mas a perspectiva dos cooperados é de que, até o fim deste ano, essa produção possa crescer em até 50%, para o que já se fazem investimentos para a ampliação das áreas onde se localizam os criatórios.

Os associados da Copacam produzem camarão em diferentes municípios, entre os quais Acaraú, Paraipaba, Limoeiro do Norte e Aracati, onde estão as maiores áreas de criação, algumas muito próximas da foz dos rios. 

A mistura da água salgada do mar com a água doce dos rios reduz a salinidade, o que é muito bom para a população de alevinos existente nos viveiros – tanques de terra que chegam a ter espelho d’agua com área de até 1 hectare.

Na recente Pecnordeste, promovida pela Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) no Centro de Eventos, a Copacam instalou e operou um estande no qual foram fechados negócios de venda de camarão produzido por vários associados da cooperativa para redes de restaurantes de Fortaleza e cidades do interior cearense.

Para seus clientes de Minas Gerais e de São Paulo, que são supermercados de bairros, a Copacam fornece quase 30 toneladas de camarão por mês. Mas esse volume crescerá à medida que for crescendo a produção dos associados da cooperativa, informou João Ricardo Tavares.

Há um obstáculo: a capacidade de beneficiamento da Copacam é de apenas 20 toneladas/mês. Assim, ela tem de usar instalões de terceiros para esse beneficiamento.

Tão importante tornou-se a carcinicultura no Ceará e no Nordeste como um todo, que a Pecnordeste criou neste ano um espaço exclusivo para os criadores de camarão. Além do estande da Copacam, foram instalados vários outros de produtores independentes, que não só venderam seus produtos, mas também os serviram em pratos prontos para degustação.

Cristiano Maia, maior criador de camarão do país e presidente da Camarão BR, entidade que congrega os maiores carcinicultores brasileiros, não tem dúvida de que essa atividade crescerá ainda muito mais quando a União Europeia abrir seu mercado para o produto brasileiro. 

A Camarão BR trabalha neste sentido junto ao Ministério da Agricultura. O problema, porém, não está na burocracia do governo brasileiro, mas na posição dos agropecuaristas europeus, principalmente os da França, que são contra a compra de camarão do Brasil, sob o argumento de que será preciso, primeiro, parar de provocar queimadas na Amazônia.

Mas é falsa essa argumentação. A verdadeira causa da posição dos agricultores franceses contra os produtos agrícolas brasileiros é exatamente a alta produtividade que alcançou a agropecuária do Brasil, que produz mais usando menos terra e menos água, graças às tecnologias desenvolvidas e aplicadas pela Embrapa, algo que os europeus não conseguem. 

O Brasil utiliza menos de 10% de seu território para a produção de sua agropecuária; na Europa, essa ocupação é superior a 60%. Em alguns países, é de 70%.

Na semana passada, o Parlamento Europeu vetou o Acordo de Livre Comércio celebrado pelo Mercosul com a União Europeia, o que é uma má notícia para o presidente Lula, que nesta semana visitará Paris e será recebido pelo presidente francês Emmanuel Macron, com quem tratará do assunto.