Ceará, que já tem duas, poderá ter mais uma Embrapa: a da Maricultura

Proposta da Federação da Agricultura (Faec), apoiada pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Governo do estado, tem forte argumento: o Ceará produz 43% do camarão brasileiro.

Já tem o Ceará, hoje, duas unidades da Embrapa – a Embrapa Agroindústria Tropical, com sede no bairro do Pici, em Fortaleza, e a Embrapa Caprinos e Ovinos, localizada na zona rural do município de Sobral, na região Norte do estado. 

Mas pode estar nascendo sua terceira unidade cearense – a Embrapa Maricultura para pesquisar e desenvolver as atividades ligadas à produção de pescado, incluindo a produção de camarão em águas marinhas e interiores. 

A ideia da nova Embrapa é da Federação da Agricultura e Pecuária (Faec) e já recebeu o apoio do secretário do Desenvolvimento Econômico (SDE) do governo estadual, Salmito Filho. Ontem, ela foi apresentada pelo presidente da Faec, Amílcar Silveira, ao senador Cid Gomes, que se entusiasmou com a proposta.

Há uma série de argumentos que, na opinião da Faec, justificam a instalação da Embrapa Maricultura em Fortaleza, o primeiro dos quais é contundente: o Ceará produz 43% de todo o camarão produzido no Brasil. 

Outro argumento igualmente forte, também relativo à carcinicultura é este: a produção cearense, estimada em 65 mil toneladas/ano de camarão, gerou, conforme números de 2022, uma receita anual para o produtor estimada em R$ 1,3 bilhão. 

Tem mais: há na geografia cearense cerca de 1.300 fazendas de cultivo de camarão espalhadas em mais de 60 municípios, totalizando uma área de produção superior a 14 mil hectares.

Não acabou. Eis mais um argumento que também alicerça a ideia da Faec e da SDE: em relação à balança comercial do pescado brasileiro, é conveniente esclarecer que o Estado do Ceará assumiu e mantém, desde 2021, a posição de principal exportador, tendo as lagostas e atuns como as principais commodities.

Apesar do potencial para a produção e o comércio de pescado, o Ceará carece, neste momento, de uma Instituição de pesquisa que atue no melhoramento genético, no manejo produtivo do camarão marinho Penaeus vannamei e no desenvolvimento da piscicultura marinha e da algicultura (produção de algas).

O senador Cid Gomes, que se tornou um aliado importante da agropecuária cearense, considerou convincentes os argumentos que lhe foram apresentados pelo presidente da Faec e prometeu esforçar-se junto à Embrapa e ao Ministério da Agricultura no sentido de viabilizar o projeto de criação da Embrapa Maricultura no Ceará.
 
A propósito: para o que o leitor desta coluna esteja bem-informado sobre a potencialidade do Brasil na área do pescado, vale destacar alguns números e informações. Por partes:

A produção mundial de pescado alcançou, em 2020, 214 milhões de toneladas, compreendendo 178 milhões de toneladas para os animais aquáticos e 36 milhões de toneladas para as algas marinhas. 

Desse total, a produção oriunda da aquicultura alcançou 122,6 milhões de toneladas (com uma receita primária de U$ 281,3 bilhões), sendo 87,5 milhões de toneladas para os animais aquáticos e 35,1 milhões de toneladas de algas marinhas.

Apesar de possuir mais de 8 mil quilômetros de zona costeira, um mar territorial (Zona Econômica Exclusiva – ZEE) de 3,6 milhões de km² , uma área territorial de 8,5 milhões de km² e um potencial hídrico incomparável, sendo dono de 18% da água doce disponível no planeta – sem embargo de tudo isso, a produção brasileira de pescado alcançou apenas 1,35 milhão de toneladas em 2020, ou seja, 0,63% da produção mundial de pescado, segundo a FAO.

O litoral brasileiro é rico em diversidade de espécies marinhas, mas os estoques pesqueiros são reconhecidamente escassos. Assim, nesse contexto, a aquicultura é a principal alternativa para incrementar a produção nacional de pescado.

Nos últimos cinco anos, a aquicultura brasileira, impulsionada pela piscicultura continental e a carcinicultura marinha, tem experimentado um crescimento significativo, não atendendo, contudo, às expectativas de consumo da população brasileira.

Por conta dos seus baixos níveis de produção de pescado durante o período 2018-2022, o Brasil importou mais de 1,5 milhão de toneladas num total superior a US$ 6 bilhões, gerando um déficit de US$ 4,4 bilhões na balança comercial do pescado. 

Como consequência, além da perda de divisas, o setor foi afetado em seus níveis de desenvolvimento, investimento e empregos diretos e indiretos.