A Starship, ou, Nave Estelar da SpaceX é o segundo estágio do foguete Super Heavy que deve superar todos os foguetes da história. Em tamanho, o foguete tem 120 metros de altura, correspondendo a um prédio de 40 andares. É 10 metros maior do que o Foguete Saturno V que levou o ser humano à Lua pela primeira vez em 1969. Lembrando que já retornamos à Lua outras 5 vezes, totalizando 6 missões tripuladas ao nosso satélite natural. E agora nos preparamos para a 7ª missão tripulada ao astro.
Com um contrato bilionário com a NASA, a SpaceX encontra-se pronta para testar novamente esse gigante da engenharia aeroespacial. No último lançamento, no dia 20 de abril, logo após a decolagem, o foguete teve que ser explodido. Apesar disso, de um ponto de vista especialista, o teste foi positivo como relatei na minha última coluna sobre a Starship. É como um bebê que para aprender a andar leva alguns tombos, mas em breve estará correndo. É apenas uma sequência de um algoritmo que consiste em criar, testar, avaliar, corrigir e testar novamente. É assim que as naves espaciais evoluem.
Ele não explodiu acidentalmente. O objetivo foi demonstrar que os 33 motores raptores eram capazes de levantar voo com os dois estágios acoplados correspondendo ao foguete Super Heavy. Após decolar, o segundo estágio não se separou. Isso impediu que os atuadores conseguissem corrigir o direcionamento da nave. Sendo assim, a equipe optou por acionar o sistema de terminação de voo. São explosivos embarcados para casos como este para autodestruição.
Outro problema a ser corrigido: os 33 motores destruíram a plataforma de lançamento (pad orbital) derretendo até o solo. Para corrigir este problema, um sistema de deflexão de chamas foi instalado. Trata-se de um sistema hidráulico capaz de promover um verdadeiro dilúvio a ser acionado pouco antes do lançamento. A água dissipa o calor impedindo a destruição da plataforma.
Esse sistema já foi testado desde 28 de julho e está funcionando perfeitamente. Não foi necessário fazer um lançamento. Na astronáutica fazemos o que chamamos de teste estático. Basicamente, se aciona os motores com o foguete preso. Uma prática muito comum até mesmo em minifoguetes, como os que produzo junto a minha equipe de astronáutica.
Melhorias no mecanismo de separação do segundo estágio também foram feitas, dentre outras correções. Mas, neste caso, é preciso da autorização da FAA para fazer um lançamento. A FAA, sigla em inglês para Federal Aviation Administration é o órgão que regulamenta e autoriza os voos espaciais da maneira mais segura possível em todo o mundo.
A nave já está pronta para seu próximo voo de testes desde o dia 24 de outubro e aguarda a autorização da FAA e de um órgão ambiental. Quando for autorizado o lançamento, é possível que vejamos a espaçonave aqui do Nordeste.
O plano de voo apresentado no último lançamento revelava que o Super Heavy deve ser lançado da Starbase em Boca Chica no Texas, EUA. Para superar o primeiro teste, o Super Heavy precisa se separar.
O primeiro estágio volta para pousar no Golfo do México. O segundo estágio que corresponde a Starship segue viagem passando pelo litoral da Guiana Francesa, e surpreendentemente, o maior foguete do mundo deve passar pelo litoral do Ceará. Eu e meu amigo Raul Brasil já conseguimos ver foguetes recém lançados pela Arianespace e SpaceX, da Barra do Ceará, em Fortaleza, sem uso de equipamentos. Isso sem os foguetes passarem próximos de nós. Se a separação do Super Heavy no último teste dia 20 de abril tivesse funcionado, todo o nordeste teria visto uma enorme pluma no céu. Espero que o plano de voo seja mantido, assim conseguiremos uma bela imagem da Starship.
Se a trajetória for mantida as pessoas verão um objeto estranho com enorme rastro de fumaça cruzando o céu. Apesar de passar perto de nós, os riscos são mínimos. Se ocorrer do foguete sair para dentro do continente, entra em ação o Sistema de Terminação de Voo.
Eu estimo que a SpaceX tenha escolhido essa trajetória porque nós temos antenas no nordeste que podem rastrear a Starship. Já visitei a base de lançamento em Parnamirim a 12 km de Natal, o CLBI, onde rastreamos os foguetes lançados dos Estados Unidos pela NASA e SpaceX e da Guiana Francesa pela Arianespace.
Os dados de telemedidas são transmitidos para as agências em tempo real para ajudar no rastreamento. O CLBI participou do rastreio, por exemplo, do foguete Ariane V que levou o Telescópios James Web ao espaço e do Telescópio Euclid colocado em órbita pela SpaceX.
A FAA já liberou o lançamento do Super Heavy verificando risco a população. Falta apenas uma liberação do serviço de pesca e vida selvagem dos EUA que estuda os impactos do sistema de deflexão de chamas. Ao que tudo indica, o maior foguete do mundo será lançado este mês de novembro. Se bem sucedido, além passar pelo nosso céu, ele dará a volta ao mundo em 1h e 30min.
Estamos esperando mais notícias e assim que tivermos a data específica do lançamento, nós divulgaremos. Inclusive pretendo fazer uma live exclusiva comentando os principais pontos do lançamento na minha rede social (@dr.ednardorodrigues).