Em programas de desenvolvimento de líderes, ouço com frequência queixas relacionadas ao comportamento dos liderados quando são repreendidos ou recebem uma orientação objetiva sobre o que precisa ser feito. Líderes estão cada vez mais “perdidos” quando o assunto é se comunicar com diferentes gerações, pois muitos temem ser mal interpretados, acusados de assédio e/ou transgredir o compliance da empresa. Vamos entender?
A história de Penélope
Penélope trabalhava em uma indústria de alimentos há dois anos como analista financeira. Sempre demonstrou competência e comprometimento, o que lhe garantiu o respeito e a admiração de seus colegas. Ela gostava do que fazia e se identificava com o time da área. Recentemente, a empresa lhe ofereceu uma grande oportunidade: substituir uma colaboradora em outro setor. Entusiasmada com o desafio e a possibilidade de crescimento profissional, Penélope aceitou a proposta e assumiu o cargo de supervisora na área administrativa.
Ao assumir a nova posição, Penélope passou a ter como gerente um líder experiente, que estava na função há mais de cinco anos. Inicialmente, ela estava confiante de que poderia aprender muito com ele e se desenvolver ainda mais. No entanto, logo começaram a surgir dificuldades, pois o gerente, que Penélope esperava ser um mentor, começou a fazer cobranças constantes e intensas.
Ele exigia resultados imediatos e frequentemente criticava o trabalho dela em público, deixando claro, por vezes, que era melhor para ela pedir demissão por causa de sua “incompetência”. Comentários como "Você não é capaz de lidar com isso? Até uma criança faz isso… Só você não consegue!", ou "Como você conseguiu errar algo tão simples? A empresa não precisa de incompetentes iguais a você!" tornaram-se recorrentes. Além disso, ele a sobrecarregava com tarefas além de suas responsabilidades, muitas vezes com prazos irreais ou com atividades muito abaixo de sua capacidade técnica, por vezes debochando da situação com piadinhas de mau gosto.
Penélope começou a duvidar de suas próprias capacidades e seu desempenho caiu. Ela se sentia constantemente ansiosa e com medo de ser demitida. A situação levou-a a questionar: essas cobranças faziam parte da normal pressão do ambiente de trabalho ou configuravam assédio moral? O que você acha?
Qual a diferença entre assédio moral e uma solicitação direta do líder no ambiente de trabalho?
Assédio moral é toda conduta praticada pelo empregador, seja ele chefe, superior hierárquico ou colega de trabalho, que visa tornar o ambiente de trabalho insuportável. Ações repetitivas que atinjam a moral, a dignidade e a autoestima do trabalhador, sem qualquer motivo justificável, apenas com o intuito de fazê-lo pedir demissão, acarretando danos físicos, psicológicos e morais, são características que comprovam o assédio.
Esse tipo de conduta também pode ser sutil, manifestando-se por meio de brincadeiras, o que torna a identificação do assédio ainda mais difícil. Algumas características fundamentais dessa definição são: repetição, foco e motivos. Muitos liderados confundem assédio com uma solicitação direta do líder no ambiente de trabalho, o que dificulta as relações de trabalho e, sobretudo, a atuação do líder.
Uma das missões mais importantes do líder é a gestão de pessoas. Pequenas palavras com um significado abrangente, pois envolve, dentre outras coisas, acreditar nas pessoas, conseguir ver em cada uma os seus principais talentos, engajá-las em torno de um objetivo, delegar, avaliar e dar feedbacks para desenvolvê-las. Diferentemente do que muitos esperam, essa missão não é de todo um conto de fadas! Os interesses e o comportamento do liderado, assim como a postura do líder, fazem toda a diferença para que a relação seja profissional, saudável e, sobretudo, honesta. Honesta, porque é uma relação que nasce de um contrato de trabalho e, portanto, há direitos e deveres de ambos.
O líder e o liderado têm resultados a entregar e se um dos dois não tiver o mínimo de alinhamento com a cultura, terá dificuldade em manter o nível de motivação necessário para o alcance do alto desempenho. Dessa forma, é essencial que líder e liderado saibam diferenciar entre fazer solicitações diretas e práticas que possam ser interpretadas como assédio moral. Solicitações diretas do líder no ambiente de trabalho envolvem a comunicação clara e objetiva de expectativas, metas e tarefas, sempre com respeito e consideração pela dignidade do funcionário. Essas orientações são feitas com o intuito de alcançar os objetivos organizacionais, metas e promover o desenvolvimento profissional do colaborador. Por outro lado, o assédio moral se caracteriza pela intenção de humilhar, desestabilizar ou prejudicar o empregado, criando um ambiente de trabalho hostil e insustentável.
Engana-se quem pensa que respeito e consideração não envolvem cobrar o que foi acordado ou a prática de feedbacks corretivos. Com a diversidade geracional, líderes de várias organizações reclamam sobre a linha tênue que divide a pressão existente nos ambientes organizacionais e o assédio moral. É fundamental que o líder adote uma comunicação assertiva, postura de empatia, transparência e justiça, evitando atitudes que possam ser percebidas como abusivas ou desrespeitosas. Ou seja, deve evitar se comportar como o antigo chefe que é refém do próprio ego e criar um ambiente seguro psicologicamente para que os colaboradores possam expressar suas preocupações e o líder consiga criar as estratégias adequadas.
O liderado, por sua vez, precisa saber diferenciar as situações para alinhar as suas expectativas e entender que tem um papel a cumprir. No ambiente organizacional há pressão, solicitações desafiadoras, feedbacks corretivos, prazos apertados e conflitos. Todos estes elementos são necessários para o alcance da alta performance.
Penélope sofreu assédio moral! Fatos presentes nesta história que configuram o assédio: induzir a vítima ao erro (seu gerente delegava atividade além de sua capacidade técnica); desacreditar a vítima diante dos colegas, superiores ou subordinados (criticava o trabalho de Penélope em público); zombar de suas origens, nacionalidade, crenças religiosas ou convicções políticas (piadinhas de mau gosto); atribuir tarefas humilhantes (delegava atividades muito abaixo da capacidade da liderada); criticar seu trabalho de forma injusta ou demasiada (frases que questionavam a sua capacidade técnica) e, por fim, essas prática eram frequentes (repetição).
Em resumo, a diferença entre assédio moral e uma solicitação direta do líder reside na intenção e na forma de conduzir as interações no ambiente de trabalho. Importante: solicitações nem sempre são confortáveis e os feedbacks nem sempre são positivos, mas, a linha do respeito sempre deve existir na relação de trabalho.
Nesta coluna, trarei para você assuntos relacionados a carreira, liderança, coaching e tendências sobre esses temas. Contribua deixando sua pergunta ou sugerindo um tema de sua preferência, comentando este post ou enviando mensagem para o meu Instagram: @delaniasantosds. Inscreva-se no canal do YouTube: @delaniasantosds.
Será maravilhoso ter você comigo nesta jornada. Até a próxima!