O Ceará não tinha nenhuma mulher capaz de discursar no palco-palanque da visita de Lula ao CE?

Várias mulheres com cargos no Executivo ou mandatos no Legislativo, além de trajetórias legítimas e currículos expressivos, estavam no local, mas nenhuma representante do Estado foi chamada ao microfone

Augusta Brito, senadora federal pelo Ceará e hoje secretária de articulação política do Governo do Estado; Janaína Farias, senadora em exercício pelo Ceará; Jade Romero, vice-governadora do Estado e secretária das Mulheres; Onélia Santana, secretária da Proteção Social; Lia Freitas, primeira-dama do Ceará e presidente do Comitê Intersetorial de Governança do Programa Ceará Sem Fome. Será que nenhuma delas, em um grande evento no qual há a presença da maior autoridade do país, tem algo a falar sobre a política educacional ou habitacional do Ceará? Ou mesmo sobre outros temas que impactam diretamente a vida dos cearenses ? 

Todas essas mulheres, com cargos no Executivo ou mandatos no Legislativo, além de trajetórias legítimas e currículos expressivos, estavam em, pelo menos, um dos palcos dos dois eventos que marcaram mais uma visita do presidente Lula ao Ceará neste ano - desta vez para lançar obras nas áreas de saúde e educação e entregar moradias. Dois grandes eventos, muitos discursos. E os protagonistas? Quase todos homens, apenas uma mulher - a ministra da Saúde, Nísia Trindade, que discursou e representou grande parte de nós -, mas nenhuma cearense com a voz nos microfones. E por quê? Quem sabe …

Dois momentos de visibilidade, com estruturas físicas e digitais de grande porte, cobertura nacional, temas de interesse social. Mas, ao nos depararmos com os cenários que marcaram os pontos altos dos eventos, é impossível não nos questionarmos: onde estavam as mulheres do Ceará no palco (palanque) da visita de Lula a Fortaleza na quinta-feira (20)? Todas sentadas e silenciosas. Tantas outras ausentes

Onde estavam figuras como a secretária de Educação do Ceará, Eliana Estrela; a secretaria da Saúde, Tânia Mara; a secretária da Igualdade Racial, Zelma Madeira; a secretária da Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Sandra Monteiro; e a vice-reitora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Diana Azevedo; e tantas outras que fazem parte da produção de conhecimento e de políticas públicas, bem como das tomadas de decisões sobre o Ceará? 

Pergunto-me ainda se: será que quando a primeira-dama Janja da Silva não comparece a algumas cerimônias, fica mais nítida a ‘desimportância’ para a voz das mulheres que estão contribuindo para a construir as cidades, os estados, o país. O mundo. Alargar fronteiras, mudar padrões e reerguer novos pilares e caminhos. Vozes que não podem mais ser silenciadas. Vale lembrar que em visita também ao Ceará, em maio de 2023, Janja alertou Lula, durante um evento público no Crato, Cariri, reprovando a situação, que não havia mulheres na fotografia oficial do ato. 

De fato, os governos do PT, tanto estadual quanto federal, trouxeram avanços nas políticas de igualdade de gêneros - temos hoje uma forte busca por paridade na ocupação das secretarias estaduais do Ceará, por exemplo. Contamos com uma pasta específica dedicada às políticas públicas para mulheres e muitas outras iniciativas locais e nacionais que reconhecem e fomentam nossos direitos e nossas conquistas. Ainda assim, muitas vezes não nos sentimos representadas quando vemos as mulheres sentadas e em silêncio. 

E tudo isso não é só um detalhe. É uma realidade para ser questionada, avaliada e contestada, por pessoas de todas as idades e gêneros, inclusive. É preciso pensar sobre quem, e como, esse cenário rotineiro pode ser alterado, e chamar à responsabilidade os homens que estão, a todo instante, tomando decisões, sobre nossas vidas, nossos corpos, nossas histórias. Sobre as nossas vozes.