Conceito capitalista sobre recurso natural empobrece e emburrece, diz economista Tania Bacelar

Tragédias ambientais como a do Rio Grande do Sul demonstram a necessidade de repensar o modelo econômico atual de exploração dos recursos naturais, conforme avaliou a economista e socióloga Tania Bacelar. “Teremos de abalar o capitalismo”, brincou. 

Segundo Bacelar, a lógica de desenvolvimento capitalista é concentradora por essência. “No meu primeiro ano estudando Economia, o conceito que me deram foi: a Economia precisa dos fatores de produção, sendo um deles os recursos naturais. Essa é uma visão estreita para um economista e também para um capitalista”, disse. 

Esse conceito de recurso natural empobrece, emburrece. Emburrece porque dificulta [olhar para a biodiversidade]. Como você analisa e contabiliza os impactos positivos, mas também os impactos negativos em outros elementos da natureza e não só naquele recurso da sua empresa, na região que está querendo explorar?”, questionou. 
Tania Bacelar
Especialista em desenvolvimento regional, economista, socióloga e professora aposentada da UFPE

Para Bacelar, ter o meio ambiente somente como fonte para gerar produção impede ampliar a perspectiva sobre biodiversidade para o crescimento sustentável. “Quando olho para o ecossistema, sou obrigada a ver os vários recursos que se combinam, interagem e se reproduzem num determinado local”, observou. 

Na avaliação da economista, as enchentes do Rio Grande do Sul colocarão o País na vitrine mundial e levantarão questionamentos sobre as escolhas de repetir ou não as atuais estruturas, incluindo as de moradias. 

“Dependendo de como fizermos, não é reproduzir aquele ambiente de antes, porque agora a dinâmica da natureza mudou e está mostrando que aquilo ali não é consistente”, analisou, frisando a necessidade de intensificar o debate sobre cidades.

“Onde colocaremos as pessoas acostumadas a morar nas cidades, onde há outros locais? E lá vem o capitalismo… E a propriedade privada do solo, como daremos conta dela?”, indagou.

Bacelar conversou com a coluna durante a 54ª Reunião Anual da Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (Alide), na sede do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), em Fortaleza, em 16 de maio. 

Quem é Tania Bacelar

Um dos principais nomes do desenvolvimento regional do Nordeste, a economista e socióloga pernambucana já foi diretora da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e secretária nacional de Políticas Regionais, além de ser professora aposentada e emérita da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

4 pontos que você precisa saber

O que é ESG?

ESG é a sigla, em inglês, para Ambiental, Social e Governança (Environmental, Social and Governance). O conjunto de práticas visa reduzir os impactos ambientais provocados pelas empresas e desenvolver um sistema econômico justo e transparente. Por isso, pode contribuir para a descarbonização da economia, termo usado para a redução da emissão de dióxido de carbono (CO₂), principal gás responsável pelo efeito estufa. ESG surgiu em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2004, e também está atrelado aos Objetivos de Desenvolvimento da ONU.

Por que o ESG é importante para o consumidor?

O ESG é importante para toda a sociedade, considerando que o País é marcado por assimetrias socioeconômicas, herança do período colonial, escravista e de uma cultura patriarcal. Por isso, pode promover mudanças de equidade no mercado de trabalho, além de reduzir os impactos ambientais dos negócios, sobretudo em um contexto de crise climática. Compreender a importância da agenda ESG ajuda a tomar decisões de consumo baseadas em práticas ambientais e sociais, pressionando os negócios a se adequarem.

O que é a Agenda 2030?

A Agenda 2030 é um compromisso global firmado pelos 193 Estados-membro da ONU, com o objetivo de gerar desenvolvimento sustentável nas dimensões econômica, social e ambiental, considerando as prioridades de países e localidades. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são parte da Agenda 2030

O que é o Acordo de Paris?

O Acordo de Paris é um pacto internacional voltado para conter o aquecimento global, aprovado como lei doméstica por 194 países e pela União Europeia, em 2015. Pelo tratado, a meta era manter o aquecimento abaixo de 2ºC e, na medida do possível, 1,5ºC.